Publicado por: Ricardo Shimosakai | 09/12/2011
Ricardo Shimosakai, passou por uma experiência desagradável. Cadeirante independente, com experiência de muitas viagens, Ricardo esteve no Rio de Janeiro participando da oficina “Adaptabilidade: um viajante diferenciado. Recomendações práticas para hotéis, atrações e companhias aéreas”, da programação do Congresso da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV).
Mesmo como palestrante, Ricardo não teve um tratamento compatível com sua necessidade física. Deslocou-se do hotel para o Riocentro nos ônibus que transportavam os congressistas, sem o elevador que permite a entrada de cadeirantes. O constrangimento foi inevitável, com os motoristas dificultando o acesso manual, temendo um acidente. A cena se repetiu várias vezes e Ricardo somou mais esta às muitas experiências vividas em outras viagens pelo Brasil.
Diante do público que o assistiu na palestra, Ricardo não falou deste episódio. Foi enfático ao afirmar que, apesar de o Brasil ter 28,5 milhões de pessoas com deficiência, hotéis, meios de transporte e pontos turísticos nacionais não estão preparados para receber este público. Segundo ele, o país está perdendo um grande filão do turismo por não oferecer condições para receber estas pessoas. O mercado é ainda mais atraente para quem recebe os americanos, qur gastam US$13,6 bilhões por ano com turismo. Enquanto o Brasil não se organiza, os brasileiros viajam para o exterior, onde as condições de acessibilidade são melhores.
Aeroportos
O palestrante apontou as carências a partir dos aeroportos, passando por hotéis, museus e atrativos turísticos. As falhas estão em todos os lugares. Para Ricardo, a informação é o maior presente nesse nicho de mercado, mesmo porque, às vezes, nem o próprio deficiente sabe como utilizar a acessibilidade oferecida pelos poucos hotéis nacionais.
Segundo o palestrante, é complicado se sentir seguro num País em que o selo de acessibilidade é usado de forma errada. “Muitos hotéis expõem no site que são acessíveis e não tem cadeira de banho nem profissionais orientados a não mexer nos objetos colocados sobre os móveis, quando hospedam cegos.
Ainda com relação aos hotéis, Ricardo criticou a atitude de alguns estabelecimentos, que ocupam o apartamento acessível com deficiente visual, o que não é necessário.
Hotéis e Transporte
A acessibilidade é diferente para cada tipo de deficiência, segundo o palestrante. “Pouquíssimos hotéis oferecem quartos para todos os tipos de portadores de deficiência”, que pode ser visual, motora, auditiva e mental. O consultor ainda declara que é necessário se verificar o que já existe nos hotéis, que são obrigados a oferecer no mínimo 5% de quartos acessíveis.
O transporte também faz parte do pacote turístico acessível, como ônibus adaptados e metrô com rampa, como estações de São Paulo. Quando se fala em grandes eventos no Brasil, é importante destacar também a Paraolimpíada de 2016. Atletas com deficiências diversas esperam encontrar oportunidades iguais, a começar nos aeroportos, que precisarão de profissionais capacitados para atender a cadeirantes e pessoas com outros tipos de deficiência. O palestrante lembrou que “o Panamericano no Rio foi um fiasco em relação à acessibilidade”.
Parques
Em locais naturais, como os parques, monitores e guias também devem ser preparados para esse atendimento especial, inclusive em prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). “Muitos não sabem, mas o órgão tem uma portaria sobre acessibilidade aos locais tombados”, comentou Ricardo, alertando que “se tivermos qualidade nesse tipo de serviço, mais estrangeiros vão querer conhecer o Brasil”.
Experiências e sugestões
Ricardo ficou paraplégico depois de ser atingido por um tiro num sequestro relâmpago, em 2001. Como gostava de viajar e percebeu que este era o desejo de muitos outros semelhantes, ingressou no curso de turismo e buscou conhecimento atualizado sobre todos os tipos de deficiência.
Apesar de não considerar que existe um destino acessível no Brasil, ele cita algumas facilidades em Curitiba. O transporte é bastante facilitado, com ônibus equipados com elevadores veiculares, as estações-tubo, além das linhas de ônibus turístico (conhecido como Jardineira), todos contemplando a acessibilidade.
Para Ricardo, a acessibilidade pode ser traduzida como conforto, pois rampas, elevadores, barras e outros ítens também são facilitadores para moradores e visitantes. Alguns equipamentos como áudio-guias em museus, servem como orientação mais detalhada para qualquer pessoa.
No caso de estádios, Ricardo aponta o essencial: rampas ou elevadores, dependendo da estrutura arquitetônica, instalações sanitárias, circulação com rotas acessíveis e sinalização adequada, além do espaço onde a pessoa com deficiência física assista ao jogo. Mapas táteis do estádio, sinalização em Braille e pisos táteis são ítens importantes para quem tem uma deficiência visual. Pessoas treinadas para interpretar a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é o recurso mais importante para pessoas com deficiência auditiva, que, apesar de ser utilizada somente no Brasil, possui semelhanças com outras línguas estrangeiras de sinais. Além disso, é importante que as informações dos recursos de acessibilidade sejam divulgadas na comunidade de pessoas com deficiência.
Fonte: Diário do Nordeste
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