sábado, 18 de fevereiro de 2012

'Nosso filho terá o amor de dois pais' Especial: Conheça histórias de mulheres e homens que adotaram

Arquivo Pessoal



'Nosso filho terá o amor de dois pais'


Nunca havia passado pela cabeça da produtora de moda Morena Andrade ser mãe. Muito menos adotar uma criança. Mas, faz vinte e cinco anos, essa convicção veio abaixo. Todos os dias, pilotando sua lambreta Vespa, ela parava em um semáforo num cruzamento atrás do cemitério da Consolação. E todo dia uma menina de rua, com aproximadamente três anos de idade, se aproximava e pedia: "Tia, me leva com você. Me leva junto, por favor."



Morena conta: "Uma hora não aguentei e levei a menina para minha casa. Passamos um fim de semana juntas, e na segunda-feira procurei o então Juizado de Menores para relatar a situação. Eles falaram para eu voltar com a criança. Ela foi toda arrumadinha. Me deram na hora uma guarda provisória de seis meses. Um ano depois chegou a certidão de nascimento da Fernanda."

A partir daí mãe e filha construíram, segundo Morena, "uma história linda". Ela acredita que o encontro estava escrito nas estrelas: "Veja bem, acho que foi a Fernanda quem me adotou. Ela me arrebatou com aquele: tia, me leva com você." Hoje a menina do semáforo está casada e tem três filhos. "Meus netos são um escândalo de lindos", gaba-se a orgulhosa avó.

Já Denise Machado, autora de livros infantis, sempre quis ser mãe. Ela e o marido André batalharam por um filho. Denise se submeteu a longos e custosos tratamentos que não deram em nada. "Nesse processo, tive alguns abortos espontâneos. Foi sofrido. No fim, a gente entendeu que o caminho era adotar", ela relata. 

O casal correu atrás. Depois de um ano, o Lucas chegou com apenas um dia de vida. "Eu não me continha de emoção, apertava nos meus braços o bebê que havia desejado com tanta força", Denise conta, e acrescenta: "Nunca pensei que seria capaz de amar tanto quanto amei e amo o meu filho."

Passados três anos, André fez um tratamento médico e Denise engravidou da Gabriela. Mãe de um filho adotivo e de uma filha biológica, ela avisa: "O amor pelos dois tem a mesma intensidade. Tanto faz se um saiu da barriga e o outro saiu do coração. Agora, pensando bem, tem uma diferença sim. O parto do filho biológico dói mais." 
Claude Ferrandis com o filho Didier. (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos quarenta e cinco anos, a funcionária pública Claude Ferrandis não tinha mais planos de ser mãe. "Acho que nunca tive coragem nem de fazer um filho e nem de adotar", ela diz. Foi então que uma amiga assistente social a convidou para dar uma força na contabilidade de um orfanato recém-criado em Itabuna, Bahia. .


PARTE 2 DA MATÉRIA

Dulce conta: "Quando voltei do exílio estava num estresse violento. Estava morrendo. Adotar os órfãos Isaías e Luísa me salvou da morte para a alegria. Nós desenvolvemos uma relação muita afetiva e produtiva para todos. Hoje, Isaías fala seis idiomas e mora na Alemanha. A Luísa também tem sua vida independente."

Mas se os dois filhos já bateram as asas, Dulce está no meio do processo de adoção da Vanessa, uma garota de quinze anos. Foi mais uma vez trabalhando numa escola profissionalizante que Dulce conheceu Vanessa. "Ela está morando comigo, é muito bom acordar e preparar o café para nós duas antes dela ir para a escola", garante Dulce.

Amor tão grande que ultrapassa obstáculos
A maioria dos pais adotivos optam por no máximo duas crianças. O que dizer então de seis? Marcela Figueirêdo e o marido Carlos com nove meses de casados adotaram a Luciana. Quatro anos depois foi a vez do Mauricinho. Quando o menino tinha dois anos e meio, vieram os bebês Daniel, Gabriel e Rafael. O casal achou que a família estava completa. Mas ainda chegaria uma menina, a Olívia.

Eles dizem que nada foi planejado: "Simplesmente foi acontecendo. Cada filho chegou para ser amado e para amar. Sempre tivemos muita fé em Deus para superar as dificuldades do caminho e para suprir as necessidades de uma família tão numerosa. Até agora a gente tem conseguido", eles dizem.
Marcela Figueirêdo e seus seis filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Atualmente a família mora em Maputo, capital de Moçambique. Carlos Mauricio trabalha numa agência alemã de cooperação internacional. Marcela é diretora da clínica dentária de uma universidade de Medicina. O casal se prepara para mais um bebê, pois a filha maior, Luciana, está grávida da Lara.

Outro ser generoso com os números do coração é o filósofo José Antonio Moroni. Também um sujeito corajoso, pois, apesar de solteiro, adotou de uma só vez quatro filhos. "Sempre quis ser pai. Mas imaginava que isso aconteceria depois da minha aposentadoria. Foi quando a história de quatro meninos cruzou com a minha vida. Pensei: por que não adotá-los agora?", conta o filósofo.

Ele explica que no começo deu um trabalhão: "Eu tive que organizar a casa de um adulto solteiro para receber quatro crianças de sete a um ano e meio. Também tive que comprar quatro camas, quatro guarda-roupas. Quatro tudo. Um vendedor chegou a perguntar se eu era dono de alguma creche."

Brincadeiras a parte, José Moroni tem pulado miudinho. Ele trabalha para valer no colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em Brasília. "Tem sido um desafio conciliar muito trabalho com a rotina de pai de quatro crianças pequenas, mas estou aprendendo. Verdade que muitas vezes tenho que avançar nas madrugadas", ele confessa.

Toni Reis e David Ian Harrad. (Foto: AP)Ser pais também era o sonho do casal Toni Reis e David Ian Harrad. Sonho que o professor Toni e o tradutor David começaram a realizar com a guarda de um menino de onze anos. Mas no caso deles, um casal gay, o preconceito e a intolerância puseram muitos obstáculos. 

Quem conta é Toni: "Depois de passarmos rigorosamente por todos os trâmites legais, um juiz disse que poderíamos adotar, com a condição que fosse uma menina e com mais de dez anos. Recorremos dessa decisão, porque achamos discriminatório. Nós, como todos os habilitados a adotar, temos direito a escolher um filho ou filha de zero a dezoito anos."

Por fim, uma juíza do Rio de Janeiro determinou que eles podiam adotar qualquer criança ou adolescente do sexo feminino ou masculino. Agora faz seis meses que eles moram, em Curitiba, com o filho carioca de 11 anos. Toni e David estão radiantes e mandam o recado: "Estamos realizando um sonho e um direito. Nosso filho terá o amor e a segurança de dois pais."

Também no sul, mais precisamente na gaúcha Bagé, a fisioterapeuta Lídia Meri Brignol Guterres e a psicóloga Luciana Reis Madana são mães de dois meninos. Quem adotou primeiro foi a Luciana, mas as crianças sempre foram criadas e amadas pelas duas. Lídia e Luciana resolveram entrar na Justiça para que os filhos recebessem os dois sobrenomes, bem como os benefícios que cada uma tem nos seus respectivos trabalhos.

Em 2010, numa decisão até então inédita, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu o direito desse casal de mulheres adotar conjuntamente. Agora Lídia e Luciana são só sorrisos, e seus filhos ostentam uma felicidade que é de poucos: a de ter, não uma, mas duas mães.



Claude se apaixonou pelo projeto e pelo primeiro bebê que chegou ao orfanato. Ela conta: "Me encantei com o pequeno Didier, e acredito que ele por mim. A criança quase foi adotada por outra mulher, mas na última hora o juiz vetou. Daí me candidatei imediatamente. Ele se tornou meu filho de papel passado aos nove meses. De repente me vi mãe, e tudo o que eu queria era sair correndo e apresentá-lo para o meu pai."

Hoje Didier está com quatorze anos. Claude diz que é um grande prazer ter alguém tão intimamente ligado a ela: "Fazemos tudo juntos". Seu maior sonho é igual ao sonho de todas as mães biológicas ou adotivas: "Tudo o que eu quero é que o meu filho seja uma pessoa do bem."

Também com quarenta e cinco anos, a contadora Marisa Alice Cartacho e seu marido Walter adotaram o Gabriel. Depois de esperarem cinco anos no Cadastro Nacional de Adoção, o menino chegou com cinco meses, e hoje está com oito. "Esses três meses de convivência têm sido uma felicidade só. O Gabriel alegra toda a família. Ninguém liga para o fato dele ser adotivo. Tanto faz, porque o amor é imenso", diz Marisa.

A produtora cultural Dulce Maia sempre foi uma mulher de coragem. Foi uma das primeiras a usar minissaia, enfrentou a ditadura militar e o banimento por nove anos. Também encarou, com quase sessenta anos, a adoção de dois irmãos adolescentes. Ela conheceu seus futuros filhos enquanto trabalhava numa casa- abrigo na cidade de Cunha, São Paulo.

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