terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Acessibilidade nos Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro. Uma questão de cidadania.

 Ricardo Shimosakai | 06/12/2011

Você deixaria de receber 24,5 milhões de clientes no seu negócio? A ideia pode parecer absurda, mas este é o número de pessoas que enfrentam diariamente algum tipo de problema para se locomover, se divertir e se alimentar no Brasil, segundo dados do IBGE. Embora no país existam normas definidas para acessibilidade – há diversas leis que versam sobre o tema –, muitas dificuldades são encontradas pelos deficientes. Restaurantes, bares e hotéis às vezes ficam na berlinda, mas também sabem dar exemplo de como tratar esse cliente especial.
As diretrizes para acessibilidade são definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e foram reunidas em uma só norma, a NBR 9050. Lá estão descritos, entre outros critérios, qual o espaço indicado em um corredor para circulação de cadeirantes, como utilizar os símbolos internacionais de acesso, os alertas luminosos que devem ser usados para informar deficientes auditivos e sinalização tátil a ser instalada no piso para auxiliar quem não enxerga.
Há uma variável a mais no Rio: segundo o Artigo 16 do decreto municipal 29.881, de 2008, alvarás só podem ser expedidos para empreendimentos que atendam a essas normas. A cidade e o estado também contam com outros decretos e leis que autorizam a entrada de cães guias em qualquer estabelecimento ou obrigam a disposição de cardápios em brailes.
“Mas eu acabo pedindo para o garçom ou outra pessoa ler para mim. O cardápio em braile está frequentemente desatualizado”, contesta Ethel Rosenfeld, consultora na área de deficiência e cega desde os 13 anos. A professora foi a primeira pessoa a usar cão guia no Rio e, escolada, anda com uma cópia da lei que garante a presença do animal. “Às vezes fico sabendo de casos de gente que foi barrada. Passei por isso há dez anos e não era para acontecer mais”, completa.
“Ainda há muita coisa a ser feita. Banheiros adaptados geralmente não existem, a altura das mesas não é adequada e, com poucos corredores ou espaço para circulação, você fica constrangida de incomodar os outros clientes”, conta Lilia Pinto Martins, presidente do Centro de Vida Independente no Rio (CVI-Rio), organização que trabalha desde 1988 pelos direitos de pessoas com deficiência. Lilia conta que os cadeirantes acabam optando por restaurantes em shoppings, onde podem encontrar banheiros, elevadores e estacionamento para quem tem necessidades especiais.
A boa notícia é que há esforços para mudar o cenário. Uma avaliação do blog Mão na Roda, que testa a acessibilidade de estabelecimentos de alimentação, apontou a pizzaria Bráz, no Jardim Botânico, como um restaurante plenamente adaptado para cadeirantes. “É um direito do cliente com deficiência ser bem atendido, mas nossa ideia sempre foi estar à frente da lei. Corredores amplos também auxiliam na dinâmica de trabalho”, conta Eduardo Cunha, um dos sócios da rede no Rio.
A mesma ideia norteou o TV Bar, casa noturna em Copacabana que também está bem cotada na avaliação dos cadeirantes. “É uma preocupação que tivemos desde o projeto. Queríamos ser um espaço acessível para o cadeirante, com banheiro exclusivo e rampas nos poucos degraus da casa”, afirma Felipe Hauch, um dos proprietários.
Dois dos principais hotéis do Rio também incluíram a acessibilidade como prioridade em reformas. O Gloria Palace, previsto para ser reaberto em 2013, fez grandes alterações na planta original para adequar o prédio às normas e regras internacionais de segurança. E o Copacabana Palace passará por uma grande reforma a partir do ano que vem. O hotel, que já tem quatro suítes adaptadas, retornará com o lobby e outras áreas 100% acessível.
“Viajo muito a trabalho e nunca tive problemas em hotéis com cão guia. No máximo, me confundo quando nos colocam em quartos grandes. Demoramos a nos situar em espaços amplos”, relata Ethel. A designer de interiores Larissa Santos desenvolve pesquisa de mestrado sobre acessibilidade para cegos em meios de hospedagem. “As principais necessidades são utilizar cores contrastantes na sinalização para auxiliar quem tem baixa visão, instalar pisos e mapas táteis e transcrever guias do hotel para o braile”, aponta.
Larissa ressalta que, além das intervenções físicas, é essencial capacitar os funcionários para atender corretamente, respeitar as limitações e entender suas especificidades. “Quando há uma pessoa com deficiência na casa, instruímos os garçons e barmen a ficarem por perto e dar preferência”, diz Felipe Hauch, do TV Bar. “A melhor forma de atender é perguntar diretamente: ‘você precisa de alguma ajuda?’”, ensina Ethel.
Fonte: SindRio 

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