Publicado em 26/setembro/2011 | Editoria : Saúde
Desde o nascimento, a criança amplia a quantidade e a qualidade de formas de se comunicar e com isto desenvolve uma maior percepção sobre o mundo e sua relação com o outro. No entanto, o percurso da aquisição de linguagem de crianças com autismo no período que antecede à verbalização e no início da mesma se diferencia do trajeto percorrido por crianças consideradas normais. Diferentemente das crianças normais, as autistas, por apresentarem transtornos de linguagem e comunicação, acabam por ter grande prejuízo no desempenho sociocognitivo (aprendizado e sociabilização) devido à interligação das três áreas.
Pesquisa realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) pela fonoaudióloga Cibelle Alburquerque de la Higuera Amato relacionou a função da comunicação ao desenvolvimento sociocognitivo de 45 crianças normais de zero a 36 meses (divididas em dois grupos com 39 e 6 participantes cada) e de 20 autistas com diagnósticos estabelecidos por psiquiatras. A intenção do estudo foi caracterizar a função da comunicação e o desempenho sociocognitivo, comparar e identificar elementos comuns ou paralelos entre crianças normais e autistas.
A partir do maior grupo de crianças normais, a coleta de dados ocorreu por meio de gravação única de situação espontânea e cotidiana de interação com suas mães em suas próprias residências. Já as filmagens realizadas com o menor grupo foram feitas a partir de acompanhamento trimestral, próximo e sistemático do desenvolvimento de crianças em situações também espontâneas e em suas casas. A intenção da pesquisadora foi aferir do maior grupo recortes pontuais que retrataram a linguagem de cada bebê em um determinado momento de vida. Já no acompanhamento sistemático e longitudinal do segundo grupo, o interesse foi delinear o desenvolvimento da linguagem durante os primeiros trinta e seis meses de vida.
As gravações feitas com crianças autistas verbais e não verbais de 2 anos e 10 meses a 6 anos e 9 meses ocorreram no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Distúrbios Psiquiátricos da Infância do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina em horários previamente agendados.
Comportamentos naturais
Durante os 36 meses de filmagem trimestrais, o comportamento das mães de crianças normais tornou-se cada vez mais natural, por terem se familiarizado com as gravações. Quanto as atividades escolhidas por elas para serem realizadas durante os 30 minutos, se diferenciou de maneira que as mães que conversavam e interagiam muito mais com seus filhos, buscavam fazê-lo por jogos e brincadeiras; em contrapartida, quando a mãe apenas se dispunha a ficar com a criança durante as filmagens, escolhia por atividades como banho, comida ou trocas de fraldas.
Durante os 36 meses de filmagem trimestrais, o comportamento das mães de crianças normais tornou-se cada vez mais natural, por terem se familiarizado com as gravações. Quanto as atividades escolhidas por elas para serem realizadas durante os 30 minutos, se diferenciou de maneira que as mães que conversavam e interagiam muito mais com seus filhos, buscavam fazê-lo por jogos e brincadeiras; em contrapartida, quando a mãe apenas se dispunha a ficar com a criança durante as filmagens, escolhia por atividades como banho, comida ou trocas de fraldas.
A resposta aos estímulos demonstrou que as crianças normais cujas mães estavam mais presentes brincavam mais. Nos casos de uma maior ausência diária da mãe, as crianças preferiam brincar sozinhas e apesar de quererem um contato físico com ela, não estabeleciam brincadeiras. “Tanto em um caso quanto no outro, entretanto, pode-se perceber que a mãe consegue estabelecer uma comunicação mais rica por entender o que a criança quer”, relata a pesquisadora.
Segundo Cibelle, “durante a coleta de dados houve algumas interferências como a escolha diferente de atividades espontâneas pelas mães (um trocava fraldas, outro comia) e a interação da criança não apenas com a mãe, mas com outros familiares (pai, avós, irmãos). Porém, possibilitaram maior naturalidade às situações e proporcionaram uma melhor proximidade com a realidade.”
Nas filmagens realizadas com crianças autistas, a preocupação das mães se concentrou no bom comportamento do filho e nos brinquedos ou jogos que haviam levado para a sala de gravação. Já, as crianças, limitavam-se a brincar com o material levado pela mãe possivelmente por não serem conhecidos por elas. “As crianças autistas, reflete a pesquisadora, agiram como bebês de 4 meses, assim como as mães que podem ter se adaptado para agir de acordo com as necessidades do filho.”
Com os dados, a fonoaudióloga concluiu que não se pode falar em um atraso de linguagem em crianças autistas. O que ocorre são percursos diferentes no desenvolvimento de linguagem desde o início da mesma. Bebês normais diminuem a vocalização, continuam a usar gestos, aumentam a verbalização e a interatividade. Crianças autistas continuam a se utilizar de gestos porque necessitam deles para se comunicar e mantém a interatividade sempre baixa.
A tese de doutorado Questões funcionais e sociocognitivas no desenvolvimento da linguagem de crianças normais e autistas foi orientada pela professora Fernanda Dreux Miranda Fernandes, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacinal da Faculdade de Medicina.
Mais informações: email cibelleamato@gmail.com
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