sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O DEFICIENTE NO MERCADO DE TRABALHO



Desemprego, competitividade, discriminação. O mercado de trabalho está concorrido e para que o profissional consiga garantir o seu lugar precisa estar bem qualificado e sempre atualizado. A situação ainda é mais preocupante quando falamos em mercado de trabalho para pessoas portadoras de deficiências múltiplas, como física, visual, auditiva, mental ou orgânica.
Poucas pessoas têm conhecimento, mas existe uma portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) de número 4.677/98 fundamentada no artigo 93 da lei número 8.213/91 que regula os benefícios da Previdência Social, bem como o artigo 201 do Decreto número 2.172/97, onde todas as empresas são obrigadas a ter em seu quadro de funcionários pessoas portadoras de deficiências.
A lei diz que empresas com até 200 funcionários tem que ter 2% de deficientes contratados, de 201 a 500 3%, de 501 a 1000 empregados 4% deficientes e mais de 1001 funcionários, 5%.
Infelizmente não existe nenhuma fiscalização no sentido de penalizar com multas em dinheiro as empresas que não cumprem a lei. Aliás, não existia. Segundo Maria Cristina Abreu, Gerente da Unidade SESI/CIRA – Centro de Integração e Apoio ao Portador de Deficiência "Rogéria Amato" acaba de ser firmado um convênio entre a DRT/MG e o SESI/CIRA cujo objetivo é o compromisso das partes de trabalhar em parceria, visando ao correto encaminhamento das pessoas portadoras de deficiência ao mercado de trabalho, conforme as vagas disponibilizadas pelas empresas junto ao Balcão de Empregos. São beneficiários deste programa: beneficiários do Seguro-Desemprego, candidatos ao primeiro emprego, portadores de deficiência, confinados e idosos da terceira-idade.
"Infelizmente o empregador não conhece a lei nem a capacidade de um deficiente. Em algumas atividades, seu rendimento pode ser até três vezes maior do que o de uma pessoa normal", afirma Maria Cristina.
E se uma empresa deixa de contratar uma pessoa só porque ela é portadora de uma deficiência isso é crime e pode ser denunciado junto ao Ministério Público para resultar numa ação judicial. "É triste mas é relativamente comum casos de pessoas que conseguem uma entrevista pessoal através do currículo ou de um contato telefônico e na hora em que o empregador repara na deficiência, elimina o candidato", comenta Maria Cristina. "E se o candidato estiver seguro de que só foi eliminado por causa das suas limitações, e se sentir descriminado, ele pode, e deve, procurar apoio na Justiça", avisa Maria.

POR QUE O MERCADO É MAIS FECHADO PARA OS DEFICIENTES?
Mauro Ribeiro é Diretor de Recursos Humanos da Novartis-Agro e está experimentando a sensação de ter deficientes físicos em seu quadro de funcionários, e afirma que a experiência é positiva, para todos. "Hoje tenho dois funcionários portadores de deficiência que rendem da mesma maneira que os outros, e a nossa idéia é aumentar ainda mais este número".
Que a situação do país está difícil para todos não é novidade e, com tanta gente desempregada, é mais fácil para a empresa contratar o melhor candidato dentre tantas opções. Agora é claro que, na hora de contratar um portador de deficiência, a empresa deixa claro alguns receios, como o momento da demissão e da homologação frente a um juiz . "Como uma multinacional encararia a possibilidade de encarar a justiça na hora de demitir um portador de deficiência física?", questiona Mauro.
Segundo a Psicóloga da AACD responsável pelo SOPP, Serviço de Orientação Psico-Profissional, Marta Mendonça, o que tem dificultado a entrada de deficientes no mercado de trabalho é a descrença na capacidade profissional destas pessoas, barreiras arquitetônicas das empresas, que quase nunca estão preparadas para receber estas pessoas, e a falta de esclarecimento quanto à legislação que protege os deficientes e quanto ao diagnóstico das doenças.
"O que acaba também interferindo muito no encaminhamento profissional dessas pessoas é que o mercado está cada vez mais exigindo 2º Grau completo, idiomas e informática", complementa Marta. "E a maioria das pessoas portadoras de deficiência, no Brasil, não consegue muitas vezes nem acabar o 1º Grau".
O mercado fica ainda mais fechado para portadores de deficiências orgânicas, como os hemofílicos, por exemplo, e aquelas pessoas com limitações nos membros superiores. "É claro que pessoas portadoras de deficiência precisam de alguns cuidados especiais, e isso todo empregador faz questão de saber, mas e a criatividade dos portadores de deficiência mental, por exemplo? Alguém sabe da organização excepcional que eles têm no trabalho e da sua criatividade ilimitada? Limitados somos nós!", diz Mauro Ribeiro.

NÃO É QUESTÃO DE CARIDADE E SIM DE QUALIDADE
O grande problema de acesso ao mercado de trabalho é o preconceito e a visão distorcida sobre as pessoas deficientes. Em qualquer área de atividade as pessoas deficientes podem trabalhar. Basta dar-lhes as condições necessárias e acreditar em suas potencialidades. As pessoas deficientes não são piores ou melhores que as outras pessoas.
O que as instituições e os projetos de encaminhamento profissional de deficientes não querem, de jeito nenhum, é emprego por caridade. "Tá cheio de empresa por aí querendo abrir um setor só para deficientes para poder aparecer nas revistas ou jornais como um ato de caridade", diz Mauro Ribeiro
"Será que essas empresas não sabem, por exemplo, que o portador de deficiência produz muito melhor quando está entre as pessoas normais?", complementa. "Existem vários casos comprovados de pessoas portadoras de deficiência que melhoraram seu desempenho na escola, em casa e na sociedade depois que começaram a trabalhar em funções normais, com pessoas ditas normais", complementa Maria Cristina Abreu.
A Psicóloga da AACD complementa que a pessoa portadora de qualquer deficiência deve ser encaixada numa função de acordo com as suas habilidades, e não ser jogada num canto qualquer da empresa em tarefas nada produtivas. "Cada deficiente tem o seu potencial e a sua capacidade, e é isso que deve ser levado em conta na hora da contratação, como acontece rotineiramente em entrevistas de emprego", afirma Marta.
O SESI/CIRA tem dentro outros produtos e serviços a colocação ou recolocação das pessoas portadoras de deficiências no mercado de trabalho. Este serviço inclui o diagnóstico do local de trabalho, recrutamento, seleção e supervisão do empregado. As empresas podem contratar pessoas portadoras de deficiência e para isso basta entrar em contato com o CIRA, que tem, em seu banco de dados várias pessoas cadastradas que esperam uma colocação no mercado de trabalho. Outro serviço disponível nesta Unidade de serviços é o grupo Psicoterápico, que objetiva o resgate da auto-estima e a melhoria da qualidade de vida dos cadastrados. Este serviço é um apoio não só ao candidato ao trabalho como àquele que está afastado por doença ocupacional ou acidente de trabalho.
No ano de 1999, dos 2500 cadastrados no SESI/CIRA, 40 foram colocados no mercado de trabalho. "Parece ser um número pequeno, mas para nós já é uma grande conquista", se orgulha Cristina Abreu.
Existe também uma parceria do SESI/CIRA com a Petrobrás para capacitar e incluir pessoas portadoras de deficiências no mercado de trabalho. A cada seis meses a Petrobrás efetiva onze estagiários em várias áreas da empresa. "Infelizmente o deficiente que mais encontra preconceito na efetivação e mais dificuldade de arrumar emprego é o hemofílico. Até agora o CIRA não conseguiu colocar nenhum no mercado de trabalho", acrescenta a Gerente do SESI.
A AACD também tem um trabalho de encaminhamento profissional para deficientes, o SOPP, um projeto vinculado ao Setor de Psicologia Adulto da AACD que visa integrar, ou reintegrar, os pacientes e ex-pacientes da AACD às atividades sociais, educacionais e profissionais. O trabalho funciona com entrevistas particulares e em grupos com os deficientes, encaminhamentos e orientações vocacionais, contatos com instituições e empresas pesquisando no mercado vagas de trabalho e uma reavaliação dos pacientes para encaminhamentos de possíveis contratações.

EMPRESAS QUE TRABALHAM COM DEFICIENTES:

Extra
Hipermercados Starvesa
IBM
CKAPT
Natura
Makro
Colégio Dante Alighiere
Globo
Cabo Net-SP
Maxi Park
Motorolla
Estação Especial da Lapa
GM
Lorictron
SENAC
Zen Cabeleireiros
Cultura Inglesa
Day Brasil Hospital Albert Einstein
BKO Engenharia
Banco 1
Cecco
Correio
Grecco
White Martins
Faculdade Santana
Farmah
BCP
Somatex
MCOMAST
Telecomunicações
Gelre Tintas da Terra
Batha Corretora de Seguros
Cromex
Arthur Joalheiros
Sistema FIEMG/SESI


Fonte:O DEFICIENTE NO MERCADO DE TRABALHO – Reportagem - Jornal Carreira e Sucesso

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