segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paciente paga caro por erro de diagnóstico



Escolher o laboratório mais perto de casa ou do trabalho para fazer exames de imagem pode até ser mais cômodo. Mas, para minimizar o risco de erros e imprecisões nos diagnósticos, os médicos recomendam buscar unidades que tenham o selo de qualidade fornecido pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR). Tarefa que não é fácil: no caso dos mamógrafos, por exemplo, apenas 5% dos 3,2 mil aparelhos do País têm o certificado.

Uma dica como essa poderia ter livrado a bancária Mary Yugue, de 42 anos, da angústia de receber um diagnóstico errado. Um falso negativo para câncer de mama quase a impediu de ser tratada a tempo. Enquanto um tumor agressivo crescia em sua mama esquerda, o laudo da mamografia emitido por um laboratório da cidade apontava apenas uma microcalcificação sem importância na mama direita.

O problema com as mamografias no País passou a chamar a atenção em 2006, após um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) constatar que 60% dos exames que chegavam à instituição, vindos tanto do SUS como de clínicas particulares, tinham problemas que prejudicavam a interpretação da imagem. “Muitos dos produtos usados no procedimento estavam vencidos, o filme era de má qualidade.

Além disso, os radiologistas eram mal treinados”, conta a mastologista Rita Dardes, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que participou do estudo. Havia ainda outros problemas, como defeitos na radiação e na calibragem da máquina, além de erros no posicionamento das pacientes.

Um novo estudo, feito com 53 serviços do SUS que passaram por um projeto-piloto de qualidade em mamografia entre 2007 e 2008, mostrou novos problemas: 30% deles ficaram abaixo dos padrões satisfatórios – índice três vezes maior que o porcentual de falhas tolerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foi essa constatação, diz Rita, que originou o Programa Nacional de Qualidade em Mamografia.

A médica observa que é um direito da paciente perguntar se o mamógrafo em que será examinada tem o selo de qualidade. E ressalta que é importante a população exigir das instituições essa garantia. Para a médica Linei Urban, coordenadora da Comissão Nacional de Qualidade em Mamografia do CBR, o grande problema da má qualidade desses exames é que a mulher passa a ter uma falsa sensação de segurança. “Se o exame não consegue diagnosticar, o tumor vai ter mais um ou dois anos para crescer e a paciente vai perder tempo, não se tratando na fase inicial.”

Ultrassom e ressonâncias
O Programa de Qualidade do CBR também avalia exames de ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada. A avaliação leva em conta tanto o equipamento quanto o profissional responsável pelo serviço.

O selo de qualidade tem validade de dois anos. Mas a adesão não é obrigatória e a avaliação não tem caráter punitivo: mesmo que o estabelecimento seja reprovado, poderá continuar funcionando. “A luta para que o certificado torne-se obrigatório, inicialmente no SUS e posteriormente na rede particular, é antiga”, diz Linei.

Técnico da Divisão de Apoio à Rede de Atenção Oncológica do Inca, Ronaldo Correa confirma que já existe uma proposta em avaliação no Ministério da Saúde a respeito da obrigatoriedade do selo de qualidade nos serviços de mamografia no País.

Especializado em saúde, o advogado Julius Conforti observa que, em casos como o da bancária Mary, a falha pode ser do operador do aparelho, do próprio equipamento, do especialista que emite o laudo ou do médico que solicitou o exame, ao interpretar os resultados. “Toda essa cadeia tem responsabilidade”, diz. “Em termos jurídicos, até o convênio pode ser responsabilizado, já que tem o dever de escolher laboratórios idôneos”, completa.

FONTE : MARIANA LENHARO
JORNAL DA TARDE

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