quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mulheres falam como é trabalhar em programas ligados a temas — ainda — dominados por homens



RIO — Repórter do canal pago Combate há nove anos, Vivi Ribeiro conta que ainda ouve perguntas do tipo: “Nossa, mas o que você faz entre tantos trogloditas?”. É assim que a maioria se refere aos gigantes lutadores de vale-tudo, entre os quais Vivi está acostumada a circular no trabalho. A jornalista defende sua turma:

— Eles não são trogloditas. Eu me amarro nesses caras. São pessoas simples, com belas histórias de vida. Aliás, são tantos anos convivendo com eles, que já me sinto até meio menino.

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Quem a vê à frente de atrações como “Área exclusiva”, “Combate Brasil” e “Espaço octógono” (leia quadro com a programação na página ao lado) e na cobertura de eventos ligados à luta — como na noite de ontem, em que acompanhou o UFC Rio, no HSBC Arena — percebe que a moça, de 30 anos, não se intimida com os músculos e a estatura de seus entrevistados. Muito pelo contrário. Ela frisa que, por trás da força e da concentração deles, também bate um coração.

— Nunca senti preconceito por ser mulher. Lembro da primeira vez em que entrevistei o Minotauro (Rodrigo Nogueira) e ele foi um fofo. Saí encantada — derrete-se Vivi, revelando que, às vezes, recebe cantadas, sim: — Teve um que resolveu fazer gracinhas no ar. Mudei de assunto, cortei sem perder a simpatia. Temos que aprender a lidar.

Vivi, que era leiga no assunto antes de ir para o Combate, procura estar sempre por dentro do que acontece. Vive fuçando sites especializados e ouvindo a opinião de experts. Fora isso, adora ficar em frente à TV grudada no octagon (o ringue das competições):

— A luta é assim: ou você ama ou odeia. Depois que começa a gostar, vicia. E é o que acontece com muitas mulheres que primeiro acompanham os homens e, depois, acabam gostando.

A paixão por esportes desde a infância foi a responsável por aproximar Fernanda Gentil do SporTV. Hoje à frente do “É gol”, exibido diariamente, Fernanda começou sua carreira no canal como repórter de campo, há cerca de cinco anos. E ela diz que, ali, no meio do gramado, ser homem ou mulher não faz diferença. O negócio é mesmo “ir para a guerra”: correr atrás dos jogadores, posicionar o microfone e fazer as perguntas necessárias. E, o principal, se impor diante da “macharada”:

— O que me intimidava eram alguns técnicos mais ranzinzas. Você tem que chegar com alguma distância, não pode dar brecha por ser mulher. A maioria ainda olha com um certo desdém, mas, depois que veem que você é uma profissional séria, que entende do assunto, se abre mais — analisa.

A jornalista esteve na Copa do Mundo da África, em 2010, e na Copa da Confederações, em julho deste ano, na Argentina. A experiência, embora valiosa, a deixou temerosa.

— Fiquei em um centro de imprensa em que tinha acesso direto aos jogadores. E você passa por todos os tipos de situação, até apertar a mão do ceguinho, lembra? — indaga ela, lembrando a situação constrangedora em que estendeu a mão para cumprimentar um deficiente visual, ao vivo.

O vídeo foi parar no YouTube e Fernanda diz que aprendeu a tirar as gafes de letra. Ela destaca que estar no meio do burburinho faz toda a diferença no trabalho.

— Eu sei de várias coisas porque estudei, vi, decorei. Os homens, não. Eles vivenciaram esses momentos, estavam nas arquibancadas. Então, percebi que ir aos jogos e eventos faz toda a diferença — explica a apresentadora.

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Raul Costa Junior, diretor-executivo do SporTV, garante que a escolha da jornalista, assim como de outras profissionais mulheres, não tem a ver com o sexo. Mas ele concorda que o interesse do público feminino pela programação do canal só faz crescer.

— E não é só pelo futebol. Mas pelo esporte em geral — reforça o diretor.

Pelos automóveis também, avisa Millena Machado, do “Auto esporte”, exibido na Globo. Mas, ao contrário do que diz o executivo do SporTV, ela acredita que sua presença na atração tenha como objetivo aproximar as mulheres do universo automobilístico. E que, de fato, elas vêm compartilhando a paixão pelos carros. Segundo Millena, o reflexo dessa adesão pode ser observado nas oficinas mecânicas.

— Eles servem café, há banheiros femininos e você não vê mais aqueles pôsteres de mulheres nuas nas paredes — observa.

Mesmo assim, ela reconhece que ainda sofre um certo preconceito daqueles que insistem que “mulher no volante é perigo constante

— Fico constrangida quando ouço frases como “Mulher, quando dirige bem, é melhor que homem” ou quando o entrevistado tem medo que eu dirija o carro dele. É chato.

Para não ter mais que passar por esse tipo de situação, Millena conta que corre — e muito — atrás da informação. A partir do momento em que se viu diante de tantos veículos, entendeu que o mundo das quatro rodas vai muito além de cores, espaço e tamanho.

— Até surpreendo alguns homens. Quando eles vão me explicar determinados conceitos, eu já sei do que se trata — gaba-se ela, que já se viu diante de alguns termos não tão comuns em seu vocabulário. Outro dia mesmo, aprendeu o significado da expressão câmbio tiptronic.

— Descobri que é o mesmo que câmbio borboleta, um recurso a mais para o motorista de carros automáticos — afirma, orgulhosa.

Monica Velloso, do “Vrum”, no SBT, acha que a mulherada não pode ter medo dos carros. E que essa história de que elas não sabem dirigir cai por terra diante das estimativas:

— Não é à toa que o seguro de carros para mulheres é bem mais barato. Somos mais sensíveis, mais atentas e provocamos menos acidentes.

Juliana Nogueira, que edita e faz matérias no “Brasil caminhoneiro”, na Band, diz que a tecnologia aproximou bastante o público feminino dos caminhões, já que a profissão sempre foi sinônimo de brutalidade.

— É aquela coisa de passar muito tempo na estrada, ter que ficar sentado dirigindo... O ambiente é realmente machista — ressalta a jornalista, acrescentando que a abordagem aos caminhoneiros precisa ser de igual para igual, sem rodeios.

Juliana garante que nunca foi destratada por nenhum deles. Mas que já foi testada por empresários do setor.

— Eles me olham e devem pensar o que estou fazendo lá. Mas sou segura. Estou no programa há oito anos, entendo do assunto — defende-se.


Michelle Cavalcanti que o diga. Apresentadora do “Pesca alternativa”, do SBT, ela está aí para provar que pescaria não é assunto exclusivo de homens, mas também de mulheres que apreciam relaxar em contato com a natureza. No entanto, admite que a falta de conforto dos barcos e as iscas (muitas vezes, minhocas) afastam as moças da atividade.

— A presença de insetos e o medo dos perrengues inibem um pouco — exemplifica.

O didatismo dos guias e a paciência dos colegas, pondera, faz o trabalho valer a pena.

— E ainda dizem que mulher no barco dá sorte! — lembra Michelle

FONTE : NATÁLIA CASTRO
EXTRA RIO

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