sábado, 24 de dezembro de 2011

Um amor diferente?


Flavia Maria de Paiva Vital. Eduardo Guimaraens.
Eduardo: Eu e a Flavia decidimos escrever este mail a quatro mãos quando percebemos o quanto seria interessante e útil abordar esta nossa singela experiência amorosa após lermos alguns mails aqui, tocando na questão sexualidade, preconceito e similares…
Este depoimento que se segue reflete o que sentimos em relação à nossa vida comum e de como se deu e se dá a nossa relação… não sei se ela pode servir de parâmetro para outros ou se serve de guia de como se faz, mas nele há um relato sincero dos nossos sentimentos.
Flavia: Sinto-me impulsionada a expor um pouco a experiência vivida quanto ao tema da afetividade e sexualidade na relação entre a pessoa com deficiência física, eu, e a pessoa sem deficiência, Eduardo.
Eduardo: Quando eu comecei a namorar a Flavia estava ciente que namorar uma mulher com Deficiência poderia ser difícil por causa das barreiras (preconceitos e coisas parecidas) que “normalmente” são impostas pela sociedade formal e também pelas pequenas necessidades especiais que ela tem. Entenda-se isto como auxiliá-la na superação de algumas barreiras arquitetônicas (algumas ações que tenho de tomar para ajudá-la me dão prazer mas no fundo é o que qualquer homem faria).
Mas deixo bem claro aqui que no que se refere a superação das barreiras, até não preciso agir muito. A Flavia adquiriu sua deficiência muito cedo (3 anos de idade) e conviveu por toda sua vida com ela. Minha namorada é perfeitamente adaptada e inclusive, por vezes, até esqueço da sua condição de deficiente, tal a vitalidade com que age no seu dia-a-dia, pois apesar de ser bem visível a sua d’eficiência ela tem uma vida normal: exerce sua atividade profissional com brilho, vai à feira, vai aos shoppings e está, sempre que possível, na rua ou exercendo a organização do seu lindo apartamento que ela chama agora de nosso.
Quanto ao preconceito social por estarmos juntos nunca percebi algo que causasse constrangimento a mim e a ela, se existiu alguma vez não percebi…
Flavia: Cabe esclarecer que nossa relação é baseada em muito amor e respeito, o que facilita a transposição de qualquer problema de uma forma adulta através do diálogo.
Eduardo: Assim tem funcionado muito para nós, pois está nos mantendo em um relacionamento profundo e apaixonado e logo, logo pretendemos estar juntos em definitivo…
Flavia: Desde quando começamos a namorar fizemos um pacto silencioso de verbalizarmos tudo o que conosco passasse: nossas angústias, ansiedades, medos, alegrias e expectativas. Este pacto apesar de nunca ter sido mencionado por nenhum de nós diretamente, tem funcionado de forma maravilhosa, pois tudo é dito e nada é escondido. As portas de nossos “armários” são abertas constantemente e tudo é exposto, conversado de maneira franca e isto faz a nossa relação honesta e sem meias-verdades.Vinda de um casamento conturbado de oito anos criei uma resistência em aceitar uma relação séria, fosse com quem fosse, mas aconteceu.
Eduardo: Eu nunca tinha tido alguma espécie de relacionamento afetivo de fato, com exceção de namoros esporádicos! Descobri meu amor pela Flavia de uma forma fortuita e inesperada.Eu a conheci na Sala Deficientes da UOL; entrei lá através de alguns amigos com deficiências , quando procurava algumas pessoas para prestarem depoimento para o meu livro, quase concluído, “Histórias de uma Guerra Absurda“.
Nossa relação de amizade se iniciou nos primeiros dias de fevereiro..e certo dia comentei com ela que iria estar no sudeste do Brasil (Rio e São Paulo – sou gaúcho) durante os dias de Carnaval e a Flavia manifestou o desejo de me conhecer. Convidou-me para almoçar no sábado (dia 4 de fevereiro) na casa dela em São Paulo e ao mesmo tempo convidou a Elis, minha amiga, para que me encontrasse lá. Este gesto de carinho e afetividade da parte dela me “pegou” naquele dia em São Paulo, e a famosa “química do amor” começou a funcionar. Três dias depois iniciamos esse relacionamento tão forte e repleto de momentos maravilhosos, que em breve vai nos unir para sempre.
Flavia: Hoje às vésperas de grandes mudanças em nossas vidas por uma opção pela felicidade, Eduardo e eu temos conversado ainda mais sobre as questões que envolvem nossa relação. E foi assim para o nosso primeiro contato íntimo..No momento que achamos que nosso namoro estava sedimentado e não tínhamos dúvidas sobre o que queríamos para nós, resolvemos que já era hora de termos esta relação mais afetiva.
Para a realizarmos escolhemos cuidadosamente o momento e o local onde seria. Idealizamos tudo que cercaria esse encontro que seria o início de nossa vida a dois. Achávamos (e hoje temos certeza que acertamos) que fazendo desta maneira, sem dúvida, levaríamos isto para o resto de nossas vidas. Com a aproximação do encontro alguns medos começaram a nos assaltar.
Eduardo: Flavia, como era de praxe para nós, verbalizou um medo seu. Disse temer como eu iria encarar o seu corpo e, principalmente, sua (d)eficiência (suas pernas semiparalisadas). Naquele momento eu disse que tinha uma idéia de como se dava esta situação e a tranqüilizei. Continuei dizendo que se nós nos amávamos teríamos que superar isto. O que não comentei com ela (vim a contar depois) era o meu medo de fracassar, já que seria a minha primeira experiência sexual com alguém que realmente eu amava (e amo cada vez mais) e na minha cabeça este fracasso poderia parecer para ela como minha repulsa pelo seu corpo.
Flavia: O que sucedeu no fim de semana marcado para nosso encontro íntimo foi a superação de nossas expectativas e medos… Foram horas maravilhosas de muito amor, afeto e carinho que vão trilhar nossa vida futura em comum… ISTO HOJE PODEMOS GARANTIR COM TODA CERTEZA!!!!
Beijos nos corações de todos,
Flavia e Eduardo.

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