Da Gazeta do povo
Esqueça a mocinha de rosto, cabelos e nome angelical. Ela agora é um exemplo de superação. Ainda ajustando os passos, é verdade, mas uma guerreira.
Após conquistar o bronze no primeiro dia de competições na ginástica rítmica (individual geral), Angélica Kvieczynski, de Toledo, participa entre hoje e amanhã, das finais nos quatro aparelhos da modalidade (maça, fita, arco e bola) – a partir das 19 h (de Brasília).
Nunca antes uma ginasta brasileira havia subido ao pódio competindo fora do conjunto em Pan.
A medalha para ela, porém, significa muito mais que o ineditismo do feito. É o retorno da confiança.
Até chegar ao pódio, Angélica passou por uma longa jornada. Depois de ficar em 20.º lugar do Mundial em 2010, sofreu uma lesão de menisco no joelho direito. Cirurgia teoricamente simples. Mas que se complicou em uma trombose, que a deixou internada no hospital, a colocou em risco de morte e a fez ficar quatro meses fora dos tablados.
No retorno, havia perdido o ponto de equilíbrio para os movimentos e a impaciência quase a fez desistir. A técnica Anita Klemann, que a acompanha na seleção e a treina desde os nove anos, foi persistente. A treinadora contou com ajuda de um psicólogo para atenuar o mau humor da atleta durante o recomeço. E usou de alguns artifícios para ajudá-la a retomar a antiga técnica.
Além dos treinos exaustivos e temporadas de clínicas na Rússia, sugeriu a mudança da cor dos cabelos de Angélica. Trocou os cachos loiros pelas madeixas negras. Anita, discretamente, conta que o novo estilo foi para ajudar a pupila a mudar de comportamento. Já Angélica diz que é para incorporar uma personagem.
“Na série com a bola, sou uma guerreira. Decidimos pela roupa preta, o cabelo mais escuro para ressaltar meus olhos verdes, dar essa imagem de força”, conta. “Eu mesma corto o cabelo, depois de preso. Quero que fique perfeito para a apresentação. Nem ligo se solto não fica tão bom”, diz.
A mudança de atitude se refletiu logo de cara no México. Depois de pensar várias vezes em desistir e ter uma participação no Mundial deste ano muito aquém do que a do ano anterior (ficou em 66.º lugar, reflexo, defende Anita, ainda da falta de ritmo de competir), na véspera da sua estreia em Guadalajara, surpreendeu a sua técnica.
“Ela estava em dúvida se ia desfilar com a delegação na festa de abertura (sexta-feira, 14/10). Incentivei. Ela decidiu ficar na Vila Pan-Americana. Ficou colando strass por strass do colant da apresentação da fita, tranquila. Disse que não era hora de entrar em festa”, conta.
O resultado é que a paranaense entrou no tablado para a apresentação com o arco, ao som de My Way (canção famosa pela interpretação de Frank Sinatra) e já conquistou o público mexicano.
Com trio do Paraná, país ganha ouro
O segundo ouro brasileiro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara veio ontem com o conjunto da ginástica rítmica. Um triunfo com a participação de três paranaenses, uma das técnicas, a londrinense Camila Ferezin, e as atletas Débora Falda, de Cambé, e a curitibana Dayane Amaral.
O grupo conseguiu a maior nota na bola e já abriu vantagem para a rotação seguinte (fitas e arcos), tendo como forte concorrente as venezuelanas, que ficaram com a prata. O bronze foi para Cuba.
A medalha coroa um ano que não começou bem para a equipe: estava fora do Mundial da França até as vésperas da competição, por não ter conseguido a classificação em 2010. A vaga veio de última hora, com a eliminação da Coreia do Norte e a negativa da Geórgia. Mas o conjunto amargou uma 22ª posição, longe dos seis primeiros lugares da vaga olímpica. A partir disso, o tetracampeonato no Pan virou questão de honra. (AB)
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