sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

E se o cãozinho for deficiente? Saiba como cuidar de cães deficientes

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E se o cãozinho for deficiente?



Ayrton Mugnaini Jr., especial para o Yahoo! Brasil01 Dec 2011 09:12:31
Justamente por ser óbvio, é bom lembrar: pessoas deficientes merecem mais atenção e mais cuidados. E nem precisaríamos acrescentar: cães deficientes também. Muitos de nós conhecemos ou temos cães que nasceram com problemas mentais, visuais, auditivos, ou foram vítimas de doença grave, acidente ou violência, ou ainda estão bem velhinhos e perdendo visão, audição ou mobilidade.
Aqui vai um guia geral, mesmo sem esgotar o assunto, visando ajudar nossos peludos deficientes a viver mais – e com qualidade de vida.
Encarando e entendendo a situação
Cães costumam se adaptar bem e rapidamente a problemas físicos, mesmo os mais drásticos e graves. Os donos, obviamente, têm de adaptar suas vidas às dos cães que, afinal, têm necessidades especiais. Também obviamente, vale a pena, não só pelo amor ao animal, mas também pelas lições de paciência, altruísmo, satisfação e bem-estar por ser útil e fazer diferença na vida de alguém de quem gostamos.
Certas deficiências não incomodam tanto a quem as tem. Explico. Uma pessoa ou animal cega ou surda de nascença não anseia por visão ou audição, pois não pode sentir falta do que nunca teve e costuma reagir e se virar na vida usando os outros sentidos. O fato de um cão ser surdo, seja ou não de nascença, não significa que ele seja impedido de passear com o dono. Idem para cães “cadeirantes”, com patas traseiras imobilizadas ou ausentes.
Esteja pronto para consolar o peludo caso ele tenha se tornado cego, cadeirante ou adquirido outra deficiência. É natural que ele fique deprimido, e a melhor terapia é a ocupacional, continuando com as caminhadas e o máximo possível de brincadeiras. Homeopatia também pode ajudar a acalmá-lo.
Quanto a cães deficientes mentais, são mais raros por dois simples motivos. Um: as mães caninas abandonam os filhotes quando percebem que estes têm menos probabilidades de sobrevivência. Pode ser triste para nós humanos, mas Mamãe Natureza é pragmática e não adianta mesmo a gente chorar – mas adianta tentarmos salvar estes filhotes. Dois: os cães que sobrevivem não costumam viver muito, vítimas da própria doença ou suas consequências como ataques e paralisias, e em casos extremos pode até ser aconselhável eles serem sacrificados.
Quando alguém chama um cachorro de “idiota” ou “retardado”, geralmente é puro desabafo de frustração ou raiva tipicamente humanas perante cães mais difíceis de serem socializados e aprenderem a obedecer comandos. No máximo, o cão costuma ter grandes fobias, e pode levar semanas para ele aprender a, por exemplo, andar com as patas traseiras. Fui dono por algum tempo (junto com meu filho e a mãe dele) de uma cadela jogada num rio dentro de um saco que foi descoberta em tempo para sobreviver, mas aparentemente a falta de oxigênio afetou-lhe a mente e sua socialização foi bem mais difícil durante todos os cerca de dez anos que ela viveu.
Algumas dicas para cuidar
Nunca é demais lembrar que socializar o cão, sela ele deficiente ou normal, é sempre importante. Como o peludo deficiente necessita de mais cuidados que um normal, o ideal é conviver com ele em casa, não num quintal, jardim ou quartinho dos fundos. Não se esqueça de inspecionar toda a casa para remover qualquer coisa que possa prejudicar um cão cego ou desatento, como galhos baixos, tábuas soltas, piscinas ou grandes fontes de água, escadas ou rampas muito lisas ou sem portões, móveis com cantos pontudos ou buracos no chão.
Procure evitar mudanças frequentes ou drásticas para o cão não se desorientar. E o cão deve ser examinado todos os dias; afinal, ele não tem a mesma facilidade humana de expressar com precisão o que sente e, se tiver paralisia ou insensibilidade em partes do corpo, não sentirá dor e portanto não poderá reagir a riscos de infecções, mesmo da forma simples, prática e bem canina de se lamber para curar ou minimizar feridas ou irritações. Como dissemos, você pode – e deve – passear com cães cegos ou surdos, apenas não se esquecendo de que é você quem enxerga e ouve por ele.
É bom apresentar o cão a outros cães deficientes. Você inclusive pode trocar experiências sobre o assunto com outros donos e donas. Mas cuidado ao apresentar o cão cego ou surdo a outros cães –  há o risco de ele estranhar e rosnar ou até morder. Se você tem outros cães ou gatos, uma boa ideia é colocar-lhes guizos no pescoço, para que o cão perceba que eles estão chegando. (Você pode também prender com elástico guizos em um de seus próprios tornozelos, para o cão saber que você está próximo.)
Guizos vão bem também em bolas, assim como perfumes de toucinho ou baunilha, ou bolas que façam algum ruído, para facilitar o cão deficiente visual a encontrá-las e brincar com elas, especialmente se ele não é cego de nascença e adorava brincar de bola quando enxergava. Assim como jogadores de futebol se tornam técnicos, um cão muito ativo que tenha de e “aposentar” por invalidez poderá ter uma segunda carreira como cão de terapia em hospitais ou casas de repouso.
Sempre “converse” com o peludo, e procure falar sempre em tom alegre e “pra cima”, especialmente se ele for cego. O cão sente segurança da presença do dono pela voz. É verdade que cães são excelentes para afastar a tristeza humana, mas isso não significa que devamos contaminá-los com ela. Ao viajar ou passar muito tempo fora de casa com ele, não esqueça do cobertor, caminha ou outro objeto com que ele esteja acostumado, para evitar que o bicho fique traumatizado ou inseguro.
Esta dica vale para todo mundo, deficiente ou não, humano ou peludo: evite paparicar e proteger demais! Deixe o cão solto o suficiente para se divertir e aprender a se virar na vida. Mesmo se ele seja de pequeno porte, não caia na tentação de colocá-lo em locais onde ele inicialmente não alcance (para comer, por exemplo), pois ele se confunde se de repente aparece um “deus” ou “deusa” para facilitar tudo. Evite também cair na armadilha daquele olhar ou ganir de quem não come há meses; obesidade, especialmente em cães inativos, é um risco e um problema a mais de que eles não precisam.
E o que é ser deficiente ou ser normal?
Parece-me adequado lembrar uma conversa que tive este ano com uma nova amiga. Ela disse: “Tenho uma filha com síndrome de Down”. Não contive um “Que pena”... e levei o mais carinhoso tapa verbal: “Como assim, ‘que pena’? O mundo material é feito de diferenças, é preciso acabar com esse preconceito de piedade! Pessoas com Down podem viver bem e são pessoas excelentes. E pessoas comuns sofrem de inveja, fraqueza, inconstância, distúrbios piores do que um déficit mental.”
Do mesmo modo, um cão deficiente precisa de mais atenção e cuidados, como dissemos, e também de carinho, mas não de piedade de “superior” para “inferior”. Mesmo que um peludo com necessidades especiais não chegue a ser normal, pensemos: afinal de contas, o que é ser normal? Mais importante é ser feliz e não causar mal a outros seres.
Não devemos ter aquela piedade inferiorizante, mas sim saber conviver com as diferenças, aceitá-las para tratá-las de acordo. Stephen Hawking, Stevie Wonder e Herbert Vianna são apenas três exemplos humanos de superação, e a perfeição, como diria Gilberto Gil, é meta de goleiro. Não importa se você acredita que seu cão é deficiente pela vontade de Deus ou por acaso e determinismo histórico; é bom pensarmos no cão deficiente como sendo, mais que portador de necessidades especiais, um cão que já é ele mesmo especial.

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