Com estrutura de treinamento e viagens equiparáveis às das equipes regulares, delegações são promessa de mais medalhas em 2012
Flávia Ribeiro*
Clodoaldo Silva no Parapan de 2011: profissionalização no esporte paraolímpico (Fotocom)
Em junho deste ano, o Comitê Paraolímpico Brasileiro recebeu 6.343.497 reais através de convênio com o Ministério do Esporte para projetos para as Seleções Brasileiras permanentes de para-natação, hipismo adaptado, para-atletismo, tiro para-desportivo, futebol de cinco e judô para cegos
Durante muito tempo, o esporte paraolímpico tinha apenas um rosto. O nadador Clodoaldo Silva, merecidamente, conquistou fama, mas era um nome solitário entre esses atletas, no imaginário da torcida. O isolamento ficou para trás. Como também é passado a época em que esses atletas viajavam em condições inferiores às dos atletas olímpicos. “Eu passei por isso. Ficava em alojamentos e até comi marmita estragada”, lembra Clodoaldo, 32 anos e veterano de quatro Paraolimpíadas e quatro Parapans.
Só para lembrar: nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, que terminaram no dia 20 de novembro, Clodoaldo ganhou dois ouros e quatro pratas. Genezi Andrade, 39 anos, um ouro e dois bronzes em Guadalajara, participou de todas as Paraolimpíadas, desde Barcelona 1992, e Parapans, desde o da Cidade do México 1999, e confirma: “O investimento cresceu muito”.
A maior prova de que o esporte paraolímpico saiu da sombra é o fato de grande parte dos atletas viver do esporte. Para ficar só na natação, Letícia Lucas Ferreira, por exemplo, chegou a se dividir entre a natação e o trabalho como nutricionista. Atualmente, recebe bolsa-atleta e se dedica apenas aos treinamentos. O país tem ainda supercampeões como os nadadores Daniel Dias, dono de cinco recordes mundiais na classe S5 e ganhador de 11 ouros no México, e André Brasil, também com cinco recordes mundiais e com seis ouros no Parapan na S10 – as categorias na natação vão de S1 a S10, para deficientes físicos, sendo S1 o mais comprometido e S10 o menos; S11 a S13, para deficientes visuais, e S14, para deficientes intelectuais.
A melhoria na estrutura do esporte paraolímpico brasileiro veio especialmente a partir da confirmação do Rio de Janeiro como sede do Pan e do Parapan de 2007. O investimento foi visível nos Jogos de Guadalajara em vários aspectos. Primeiro, na presença de psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, massagistas, médicos e outros profissionais sempre às voltas com os atletas, nos treinos e competições. Depois, pela forma surpreendente com que o Brasil confirmou a posição conquistada em 2007, de primeiro colocado no quadro de medalhas: foram 197, sendo 81 delas de ouro, contra 132 medalhas, 51 de ouro, do segundo colocado, os Estados Unidos.
Só para lembrar: nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, que terminaram no dia 20 de novembro, Clodoaldo ganhou dois ouros e quatro pratas. Genezi Andrade, 39 anos, um ouro e dois bronzes em Guadalajara, participou de todas as Paraolimpíadas, desde Barcelona 1992, e Parapans, desde o da Cidade do México 1999, e confirma: “O investimento cresceu muito”.
A maior prova de que o esporte paraolímpico saiu da sombra é o fato de grande parte dos atletas viver do esporte. Para ficar só na natação, Letícia Lucas Ferreira, por exemplo, chegou a se dividir entre a natação e o trabalho como nutricionista. Atualmente, recebe bolsa-atleta e se dedica apenas aos treinamentos. O país tem ainda supercampeões como os nadadores Daniel Dias, dono de cinco recordes mundiais na classe S5 e ganhador de 11 ouros no México, e André Brasil, também com cinco recordes mundiais e com seis ouros no Parapan na S10 – as categorias na natação vão de S1 a S10, para deficientes físicos, sendo S1 o mais comprometido e S10 o menos; S11 a S13, para deficientes visuais, e S14, para deficientes intelectuais.
A melhoria na estrutura do esporte paraolímpico brasileiro veio especialmente a partir da confirmação do Rio de Janeiro como sede do Pan e do Parapan de 2007. O investimento foi visível nos Jogos de Guadalajara em vários aspectos. Primeiro, na presença de psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, massagistas, médicos e outros profissionais sempre às voltas com os atletas, nos treinos e competições. Depois, pela forma surpreendente com que o Brasil confirmou a posição conquistada em 2007, de primeiro colocado no quadro de medalhas: foram 197, sendo 81 delas de ouro, contra 132 medalhas, 51 de ouro, do segundo colocado, os Estados Unidos.
Phelipe Rodrigues no pódio do Parapan 2011
Intercâmbios, viagens de aclimatação e projetos olímpicos também fazem parte do pacote. O Projeto Ouro, por exemplo, dá suporte ao treinamento de 15 atletas de ponta visando a bons resultados nas Paraolimpíadas. Em junho deste ano, o Comitê Paraolímpico Brasileiro recebeu 6.343.497 reais através de convênio com o Ministério do Esporte para projetos para as Seleções Brasileiras permanentes de para-natação, hipismo adaptado, para-atletismo, tiro para-desportivo, futebol de cinco e judô para cegos. Em uma ação planejada para o Parapan, nove dos 39 atletas que representaram a natação brasileira foram mandados pelo CPB para dez dias de treinamento em La Loma, localidade mexicana a 2.600 metros do nível do mar, antes de seguir para Guadalajara, que fica a 1.800 metros, com o objetivo de não sentir a altitude na hora da competição.
Lições – Os atletas paraolímpicos brasileiros não treinam para ser exemplos ou dar lição de vida, e sim para conquistar medalhas e evoluir no esporte. São atletas de alto rendimento, e essa é sua profissão. Por isso, o país se tornou uma potência paraolímpica. Mas em La Loma foram lembrados de que se puderem tocar a vida de algumas pessoas no caminho, ganham um bônus muito bem vindo de força e solidariedade. Num dia normal de treino, uma senhora apareceu e contou que o marido, um policial mexicano que alguns meses antes recebera três tiros e ficara paraplégico, estava em depressão no hospital, falando em suicídio.
Foi a senha para que Daniel Dias, Edênia Garcia, Susana Ribeiro, Verônica Almeida, Phelipe Rodrigues, Jeferson Amaro, Francisco Avelino, Maria Dayanne e Nélio de Almeida aparecessem no hospital e fizessem uma surpresa que mudou a visão de vida do homem. “Eu disse a ele que nossa força não está nas pernas, e sim no coração e na mente”, lembra Edênia, que sofre de uma doença degenerativa e é uma das grandes esperanças de medalha do Brasil, ano que vem, na Olimpíada de Londres – já tem duas medalhas paraolímpicas e sete parapan-americanas. Uma delas, de ouro, foi conquistada este ano, em Guadalajara, nos 50m costas, com direito a recorde da competição, mesmo com Edênia competindo contra atletas de uma categoria acima. Ela é S4, mas por falta de competidoras de sua classe, nadou nas provas de S5, atletas com menos comprometimento. É mais um obstáculo na carreira dos atletas paraolímpicos, que eventualmente passam por reclassificações de classe. Clodoaldo é um exemplo: imbatível no S4, passou a sofrer mais para ganhar quando foi reclassificado para S5.
Susana Ribeiro se emociona ao lembrar que, depois de Edênia, cada um teve uma experiência para passar ao policial mexicano. “Ele tinha ficado em coma, quase morreu. Então o Daniel disse: ‘Deus te deu outra chance e você quer jogar fora, se matar?’. Contamos nossas histórias, falamos do esporte e de como temos alegrias. No fim, ele nos disse que não imaginava uma vida para ele até nos conhecer, e que isso mudou tudo”, conta Susana, ex-triatleta que teve que readaptar toda a sua rotina quando descobriu sofrer de um conjunto de doenças degenerativas, entre elas o Mal de Parkinson.
Em 1995, Susana disputou a prova de triatlo no Pan-Americano de Mar del Plata, na Argentina. Agora, depois de seu primeiro Parapan, ela entende perfeitamente o sentimento do mexicano. “Depois da doença, mas antes de começar a nadar, eu me perguntava todos os dias: ‘Será que ano que vem vou estar viva? Será que vou ver meus filhos crescerem?’. Agora, me pergunto: ‘Será que ano que vem vou para a Paraolimpíada?’. Mas penso no índice, não em morte. É outro foco”, comenta.
A experiência em La Loma foi tão marcante para os atletas que o técnico Marcos Rojo Prado, o Marcão, também presente, resumiu o sentimento do grupo numa conversa após a saída do hospital: “Nossa missão aqui nós já cumprimos, e nem sabíamos que tínhamos uma missão: era salvar a vida daquele homem”. A segunda missão foi cumprida depois, já no Parapan: alcançar a meta de ficar em primeiro lugar em medalhas em natação. Só na natação, o Brasil conquistou 85, sendo 33 de ouro – o segundo colocado, o México, ficou com 60 no total, 20 delas douradas.
Lições – Os atletas paraolímpicos brasileiros não treinam para ser exemplos ou dar lição de vida, e sim para conquistar medalhas e evoluir no esporte. São atletas de alto rendimento, e essa é sua profissão. Por isso, o país se tornou uma potência paraolímpica. Mas em La Loma foram lembrados de que se puderem tocar a vida de algumas pessoas no caminho, ganham um bônus muito bem vindo de força e solidariedade. Num dia normal de treino, uma senhora apareceu e contou que o marido, um policial mexicano que alguns meses antes recebera três tiros e ficara paraplégico, estava em depressão no hospital, falando em suicídio.
Foi a senha para que Daniel Dias, Edênia Garcia, Susana Ribeiro, Verônica Almeida, Phelipe Rodrigues, Jeferson Amaro, Francisco Avelino, Maria Dayanne e Nélio de Almeida aparecessem no hospital e fizessem uma surpresa que mudou a visão de vida do homem. “Eu disse a ele que nossa força não está nas pernas, e sim no coração e na mente”, lembra Edênia, que sofre de uma doença degenerativa e é uma das grandes esperanças de medalha do Brasil, ano que vem, na Olimpíada de Londres – já tem duas medalhas paraolímpicas e sete parapan-americanas. Uma delas, de ouro, foi conquistada este ano, em Guadalajara, nos 50m costas, com direito a recorde da competição, mesmo com Edênia competindo contra atletas de uma categoria acima. Ela é S4, mas por falta de competidoras de sua classe, nadou nas provas de S5, atletas com menos comprometimento. É mais um obstáculo na carreira dos atletas paraolímpicos, que eventualmente passam por reclassificações de classe. Clodoaldo é um exemplo: imbatível no S4, passou a sofrer mais para ganhar quando foi reclassificado para S5.
Susana Ribeiro se emociona ao lembrar que, depois de Edênia, cada um teve uma experiência para passar ao policial mexicano. “Ele tinha ficado em coma, quase morreu. Então o Daniel disse: ‘Deus te deu outra chance e você quer jogar fora, se matar?’. Contamos nossas histórias, falamos do esporte e de como temos alegrias. No fim, ele nos disse que não imaginava uma vida para ele até nos conhecer, e que isso mudou tudo”, conta Susana, ex-triatleta que teve que readaptar toda a sua rotina quando descobriu sofrer de um conjunto de doenças degenerativas, entre elas o Mal de Parkinson.
Em 1995, Susana disputou a prova de triatlo no Pan-Americano de Mar del Plata, na Argentina. Agora, depois de seu primeiro Parapan, ela entende perfeitamente o sentimento do mexicano. “Depois da doença, mas antes de começar a nadar, eu me perguntava todos os dias: ‘Será que ano que vem vou estar viva? Será que vou ver meus filhos crescerem?’. Agora, me pergunto: ‘Será que ano que vem vou para a Paraolimpíada?’. Mas penso no índice, não em morte. É outro foco”, comenta.
A experiência em La Loma foi tão marcante para os atletas que o técnico Marcos Rojo Prado, o Marcão, também presente, resumiu o sentimento do grupo numa conversa após a saída do hospital: “Nossa missão aqui nós já cumprimos, e nem sabíamos que tínhamos uma missão: era salvar a vida daquele homem”. A segunda missão foi cumprida depois, já no Parapan: alcançar a meta de ficar em primeiro lugar em medalhas em natação. Só na natação, o Brasil conquistou 85, sendo 33 de ouro – o segundo colocado, o México, ficou com 60 no total, 20 delas douradas.
* Flávia Ribeiro trabalhou com o Comitê Paraolímpico Brasileiro nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara
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