segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

SEXUALIDADE DE MULHERES COM DEFICIÊNCIA FÍSICA


Entrevista feita com Genaura Tormin, pela assistente social, Marly Machado Bento Bueno, para suporte do tema: “Sexualidade de Mulheres com Deficiência Física”, cuja monografia alcançou a nota máxima.

— Qual é o seu nome?
— Meu nome é Genaura Tormin.

— Qual sua profissão? Trabalha? Onde?
— Sou serventuária do Judiciário Federal. Meu cargo é o de Analista Judiciário, área judiciária. Trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em Goiânia. O trabalho funciona para mim feito uma terapia. Significa vida e me acrescenta a auto-estima.

— Participa de alguma organização social? Qual? Faz o que lá?
— Sim. Sou afiliada à ABMCJ — Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica; à UBE – União Brasileira de Escritores de Goiás; à ADPEGO — Associação dos Delegados de Polícia de Goiás; à ADFEGO — Associação dos Deficientes Físicos de Goiás; e outras mais, além de ser Consul do POETAS DEL MUNDO em Goiás.

— Qual é o seu estado civil? Se casada, qual é a profissão do marido?
— Sou casada com um grande amor. Meu marido, Alfredo de Paiva Tormin, é odontólogo.

— Têm filhos? Quais as suas profissões?
— Temos quatro filhos: Lara Patrícia, Flávio, Fernando e Frederico. Todos eles são formados em Direito e o Flávio formou-se também em odontologia. A Lara ocupa o cargo de Oficiala de Justiça Avaliadora da Justiça Federal, o Frederico é Procurador do Estado de Goiás e os outros dois são serventuários do Tribunal Regional do Trabalho, onde ocupam cargos de direção.

— Qual é a sua religião? Qual a freqüência de sua participação na igreja? O que faz lá?
— Sou egressa de um colégio de freiras, onde morei durante nove anos. Queria ser freira, entretanto, hoje, depois da paraplegia, sou espírita convicta. Não freqüento muito, mas leio muito. Às vezes profiro palestras na Irradiação Espírita e no PAE (Posto de Auxílio Espírita). A doutrina espírita respondeu todas as minhas perguntas.

— O que aconteceu para que você ficasse com essa deficiência? Quando ela ocorreu?
— Nada! Dormi sã e acordei assim. Eu tinha 36 anos de idade. Há muito não convivo com os meus passos, a minha sensibilidade tátil, a liberdade de ir-e-vir. Estou inerte do peito para baixo. Uso sonda vesical para escoar a urina acumulada e o resto comando com a codificação mental, além do exercício da paciência, do improviso e da capacidade para me adaptar. Segundo diagnóstico médico, trata-se de uma Mielite Transversa Virótica, o que significa ter sido uma infecção na medula. A medula é basilar para o ser humano. É por meio dela que o cérebro envia as ordens para o funcionamento de todo o organismo. A mielite danifica os nervos e interrompe os fluxos nervosos com perda de sensibilidade. É uma lesão gravíssima. Chama-se Mielite Transversa porque acontece no sentido horizontal. São inúmeras as suas causas. É uma síndrome incapacitante, paralisa tudo o que esteja abaixo dela: pulmão, bexiga, intestino e aparelho sexual, além da locomoção. Se acontecer na porção cervical, a pessoa fica tetraplégica. Pode matar. Leigamente falando, acho que fui vítima de uma anestesia na região lombar. Talvez tenha sido a Raquidiana ou a Peridural. No meu livro, Pássaro Sem Asas, a partir da 3ª edição, acrescentei um capítulo intitulado ‘Pode ter sido anestesia’, em que conto todos os pormenores a respeito disso.

— Qual foi sua reação ao ser comunicada desse diagnóstico?
— Fiquei em pânico, em cacos. É indescritível! Acordei com a sensação de que me havia tornado num boneco: não sentia os membros inferiores, não tinha equilíbrio. Foi difícil! Uma impotência terrível! Não me lembro do que pensei, mas parecia o fim, uma morte por tabela.

— O que fez para aceitar o fato de não andar mais?
— Bom. Primeiro envidei muitos esforços para ver se revertia o descalabro da situação. Depois, quando percebi que meu caso era irreversível e o remédio era mesmo me aceitar, resolvi arregaçar as mangas e dar a mim mesma um voto de confiança, tendo em vista ter uma família para cuidar, um marido, uma vida... E os filhos eram pequenos: 11, 10, sete e seis anos. Eles eram a estampa do tamanho da força que eu deveria ter. Eu tinha que lutar. Afinal estava viva! O motivo dessa luta até hoje se chama AMOR.

— Quais as maiores dificuldades que enfrentou ou enfrenta após a paraplegia?
— No início eu enfrentei muitas dificuldades, mesmo. Senti-me fechada, enclausurada, prisioneira por crime que não havia cometido, pelo menos nesta existência. A impossibilidade de ir para o trabalho da cozinha, alçar voos aos folguedos com os filhos, ajudá-los, cobri-los à noite, fazia-me sofrer muito. Realmente, eu não sabia viver daquele jeito e não havia literaturas que me dessem alguma luz. Não sabia como fazer as necessidades fisiológicas, pois não havia vontades. Foi muito difícil! O que doeu muito foi a falta de sensibilidade que enfrento até hoje. Quebro perna e não sei que quebrei, só percebo quando vejo o inchaço. Eu gostaria de sentir dor, pois ela é um mordomo, é um arauto que nos avisa, que nos chama à preservação. Entretanto as dificuldades têm o seu lado positivo: concitam-nos ao desafio. Julgo-me um soldado sempre pronto para novos combates.

— O que mudou na sua vida após a paraplegia?
— Em paraplegia adaptar-se é irreversível. Até que me adaptei rápido. A cadeira me leva dentro de casa, eu dirijo o carro nas ruas... A casa teve de ser adaptada, as portas alargadas, o piso nivelado... Uma nova vida. Até os amigos mudaram. O engajamento da família foi e é de suma importância. Não sou tida como paraplégica. Meu marido nunca me tirou a autoridade com os filhos ou com o lar. Tudo como antes. Retomei às minhas atividades, quis ser produtiva. Trabalhei 13 anos como Delegada de Polícia, e já trabalho há alguns anos no Judiciário Federal. Muita coisa mudou para melhor.

—Quais os limites adquiridos com o fato de não andar mais?
— Há! Muitos limites, muitos, uma vez que eu andava a cavalo, corria, andava de bicicleta, subia às árvores, pegava onda no mar, nadava... Ainda tento ser ousada, mesmo que seja apenas para guardar a façanha numa fotografia. Já tentei andar a cavalo, de trator, de carroça, de jet sky, de motocicleta, de lancha, de ultraleve, de caiaque, de veleiro... Hoje ainda nado, porém com um colete salva-vidas. De vez em quando faço mergulho autônomo... Eu era um tipo meio irreverente. Acredito que se eu tivesse que me comparar a um bicho, comparar-me-ia a um camaleão, porque o camaleão sempre está mudando de cor, sempre está se adaptando, e eu sempre fui assim. Sou muito risonha e era muito mais. Sempre fui daquelas pessoas ‘cheguei, estou aqui’. Hoje, visualmente, sou diferente, até engraçada: pernas de roldanas, pois ando sentada e uma de minhas orações é a de me encantar com a vida.

— Como seu parceiro reagiu diante desses limites?
— Meu marido é uma luz na minha vida. Eu acredito que sem ele não haveria unidade. Realmente nós somos metades e nos completamos. Somos cúmplices. "Não há nada que mais estreite dois corações do que haverem chorado juntos (Jean-Jacques Rousseau)".
Ele sempre esteve comigo em todos os momentos, não como um prestador de cuidados, mas como um sócio. E tudo isso é justificado por uma pequena palavra chamada amor, comprovada pelos anos de casamento e pelos frutos dessa convivência.

— Esse limite interfere no desempenho de sua sexualidade? Como?
— Lógico! Eu conheci o outro lado. Fui inteira até os trinta e seis anos de idade. A minha lesão é medular e muito alta. Está nivelada em T-4, o que significa dizer que a paralisia começa logo abaixo dos seios. Desse nível para baixo, sou toda dormente, não sinto nada, além de não haver coordenação motora. Entretanto sexo não significa apenas contato físico. Ele está muito mais na cabeça, no coração e no amor que engloba tudo isso. Há, ainda, a criatividade que nos aponta outros meios, outras maneiras de fazer amor. Aprendemos a encontrar a essência do prazer de outras formas. Procuramos fantasiar e atentar para o que me sobrou ileso, embora eu possa satisfazê-lo plenamente, tendo em vista, anatomicamente, tudo se encontrar em forma, apenas sem sensibilidade. Posso afirmar que tudo vai bem, e a família também.

— Como você lidava com a sexualidade antes da paraplegia?
— Antes, nosso clima de sexualidade era muito bom. Os olhos, os sorrisos, estampavam o desejo. Havia uma necessidade enorme de estarmos juntos. A atração era, realmente, muito forte. Coisa de pele. Nós éramos mais jovens, os hormônios ouriçados... Havia muito encantamento e a química do prazer no ponto certo.

— E agora? O que mudou?
— É ainda muito bom. Tudo dentro do cronograma etário, e sei que vai continuar por muitos anos ainda. A gente sempre arranja um jeitinho para que o clímax fique melhor. O desejo de amar já é amor. Hoje não há orgasmo, tecnicamente falando, mas ele se manifesta de outras maneiras: no olhar, no suor, nos olhos, nas lágrimas, no aconchego, no estar junto sem dizer nada, na divisão de um copo de suco, na chegada estampada em passos... Tudo me ouriça, me cativa, me faz querer sempre mais. Tudo está na maneira de pensar e na disposição para achar soluções. Não podemos viver de lembranças. Nada nos acontece por acaso. Não cai fardo pesado em ombros que não possam carregá-lo. Contudo o contato físico, sexualmente falando, existe, sim, e bom, capaz de nos levar à satisfação plena, o que eu costumo dizer: longe da terra e perto do céu.

— Como ficou sua relação com a vida após a paraplegia?
— Como disse, sou egressa de um colégio de freiras, onde aprendi os valores da vida, razão por que sempre tive a humildade por escudo. Olhando para trás, não me vejo uma pessoa má, uma pessoa que precisasse de uma lição. Eu era uma dona de casa dentro dos parâmetros da normalidade, mãe, estudante, uma vez que fiz faculdade depois de casada. Fiquei paraplégica um ano e meio depois que me formei em Direito. Entretanto a vida ficou melhor, tem mais sentido, é mais real. A cada esforço para me transferir para cadeira de rodas, reputo ser um tipo de oração, uma oportunidade para valorizar a vida, valorizar a família e a mim mesma. Assim a minha relação com a vida ficou melhor. Passou a ter mais sentido. É tão verdade, que tive crescimentos extraordinários, tanto profissionalmente quanto espiritualmente. Escrevi quatro livros: Pássaro Sem Asas, que já está na 6ª edição, Apenas Uma Flor, Nesgas de Saudade e Borboleteando. Estes três últimos são de poesias. Escrevo artigos para jornais, revistas, profiro palestras por aí, no Estado e fora dele. Cresci como pessoa e me gosto mais hoje. Minha imagem, sentadinha na cadeira de rodas, toca as pessoas. Isso me faz bem e é motivo de agradecimento. Surge a oportunidade de passar uma mensagem de otimismo, de ajuda, de garra, para significar que é possível viver. A deficiência é uma experiência natural da vida humana, e não é por causa dela que a gente tem de ser obstaculizada de perseguir sonhos, conquistar profissionalismo como todas as pessoas normais. Sou uma perseguidora de sonhos até hoje.

— O que sonha para você e a sociedade?
— Sei que as pesquisas científicas avançam. Estamos diante de uma revolução médico-tecnológica, sem precedentes, desencadeadora de processos curativos extraordinários. É o marco deste novo milênio, que enfoca o uso da clonagem de embriões, principalmente nas pesquisas das chamadas células-tronco, tentando buscar a superação dos problemas do ser humano. Não há dúvidas de que as suas potencialidades são enormes, e pode-se esperar um novo tipo de Medicina que resultará em saúde e longevidade. Um verdadeiro tesouro!  E essa experiência já está saindo do papel para a prática. Eu não sei se isso vai resolver para mim, mas no meu sentimento de amor desejo que essa pesquisa crie asas, crie formas, para devolver os movimentos a tantos paraplégicos, a tantos meninos que estão aí em cadeiras de rodas, e também saúde para outros casos. Gostaria que a sociedade soubesse mais sobre as condições de vida das pessoas com deficiência, para que as discriminações fossem banidas. Sonho com a ‘igualdade de oportunidades para todos’, e que o deficiente físico, principalmente o cadeirante, fosse visto pela competência e não pela cadeira que ocupa. Para mim, não consigo nem pedir porque tenho mais do que mereço ou preciso. Tenho uma família, um amor, um abrigo, um emprego e uma paraplegia que me faz melhor. Enfim, tenho paz, que mais poderia desejar?

— Em seu livro ‘Pássaro Sem Asas’ você mostra que fez várias adaptações domésticas para facilitar o seu dia-a-dia. E no trabalho e quando viaja, em hotéis, como você enfrenta as barreiras existentes?
— Hoje há uma consciência popular maior sobre a situação da pessoa com deficiência. Na minha casa, o meu marido desde os primeiros anos preocupou-se com as adaptações para que eu descobrisse o meu novo mundo, para que eu voltasse a ser produtiva. Tentamos sempre adquirir tudo o que me facilite o caminhar. É o que chamo de muletas externas. O Tribunal onde trabalho é servido por rampas, e tenho um banheiro decente que atende às minhas dificuldades, às minhas limitações. Recente foi instalado um elevador, especialmente para que o deficiente cadeirante pudesse acessar o andar superior. É o respeito às leis, além do real entendimento do slogan ‘igualdade de oportunidades para todos’, o que significa que os dirigentes do Tribunal são pessoas de espíritos evoluídos. Tenho tido dificuldades para entrar nos banheiros dos hotéis durante as viagens. Aí a criatividade e o improviso se encarregam, preocupando-me para não ficar triste. Às vezes, lavo o rosto com toalha molhada, fico sem tomar banho, lavo as axilas, as partes íntimas [risos]... Tendo o marido por perto, tudo fica fácil, embora não deixe de reclamar (da falta de adaptações) para criar consciência popular. Não me constranjo em subir escadas nos braços de alguém. Faço isso para que outras pessoas vejam. Pode ter ali um futuro arquiteto, um futuro engenheiro, solo fértil para o plantio da semente.

— Como você vê o preconceito em relação à pessoa com deficiência?
— Ele existe e não será banido tão cedo, não só em relação às pessoas com deficiência, mas em relação às minorias. Isso é cultural. Vem de longas datas. Na Grécia antiga, as crianças que nasciam com deficiência eram tidas como seres sem alma, abandonadas para morrer. Os cristãos achavam que era um castigo de Deus. Ainda hoje a cadeira rodas passa uma idéia de mendicância. Há sempre sentimento de piedade, de medo, e quase nunca o de respeito. Mas isso a gente vai tirando de letra, mostrando o outro lado. Não há discriminação que resista à competência. O importante é ostentar a coragem e seguir em frente, desafiando as impossibilidades.

— Em outras entrevistas com mulheres que ficaram deficientes físicas pude perceber que elas falam pouco sobre a questão da sexualidade. Dentro de sua experiência de vida e também como autora de um livro que aborda também essas questões, gostaria de saber a sua opinião. Por que há esse receio quando o assunto é sexualidade?
— É falta de amor para consigo mesma; é falta de auto-estima e até de conhecimento, porque estar deficiente não significa estar morta ou assexuada. A mente e o coração estão ilesos, além do sentimento de amor que temos pelo parceiro. O ato sexual não é somente a penetração do membro viril, envolve muito mais. Assim não cultivar essa forma de amar é se menosprezar, é se anular e, além de tudo afastar o companheiro ou não atrai-lo. Sempre há uma saída. Não há portas que não se abram. Particularmente, tenho um fascínio por portas. Estou sempre imaginando o que há por trás. Temos que usar a criatividade, a fantasia, a ternura, a sedução, os enleios das mãos, da voz, do sorriso e saber aproveitar o que nos encanta no parceiro, procurando dar e receber. Com uma lesão alta igual a minha, a ausência da sensibilidade é total. Não sinto sequer a penetração durante o ato sexual. Mas quantas outras carícias eu posso fazer? A natureza é sábia! O prazer, geralmente, é transferido para outras áreas do corpo. Basta procurar. No meu caso, e para minha satisfação, as axilas substituíram os enleios de prazer do órgão genital. Entre duas pessoas que se amam, no recôndito de quatro paredes, tudo é normal. Vamos procurar, vamos pesquisar... Por que não procurar outros pontos eróticos que não nos deixem a ver navios!? O importante é a gente pensar que é boa no que faz e procurar o prazer na mente, no coração, no aconchego, numa encostadinha de rosto, num beijo... Tudo isso tem muita importância. Descobri que o beijo ficou mais gostoso, as carícias nos lóbulos das orelhas, no pescoço, nos seios, nos cabelos... Eu nunca havia pensado nisso antes. Realmente, as pessoas que assim não agem estão se anulando, fazendo-se refém da paralisia, mentalmente, inclusive. Eu sou mente, sou comando, não vou permitir que umas pernas estáticas, uma dormência afoita comandem-me o cérebro e o coração. Isso, nunca! Continuo fêmea e me orgulho dessa condição. Tenho um artigo intitulado “Não somos assexuados” em que abordo esse assunto, pois a mídia é a grande responsável por essa pecha que recai sobre nós, incluindo as novelas. Como formadora de opiniões, a mídia deveria construir, arremessando-nos à busca de soluções, tentando melhorar o porvir.

— E como você vê os profissionais que não se voltam para a questão da sexualidade da pessoa com deficiência?
— Eu fui reabilitada no Hospital Sara Kubitschek, em Brasília. No início, fiquei avessa a esse assunto, tendo em vista pensar que iria recuperar tudo. Entretanto, lembro-me bem de que a minha fisioterapeuta, Mércia, mostrara-me revistas americanas, explicando-me como eu iria fazer amor. Só que não dei importância, razão por que tive que pagar o preço com as próprias experiências, as próprias buscas. Às vezes, os prestadores de cuidados não nos incentivam nesse particular, por não sermos detentores dos movimentos físicos e da sensibilidade, acreditando que a sexualidade não se faz mais necessária. É como se estivéssemos sendo condenados ao exílio. O crime: prazer sexual. Ledo engano! São necessários estudos e nova mentalidade que qualifiquem os profissionais dessa área, além de literatura informativa, também para o paciente e sua família.

— Durante estudos bibliográficos, descobri que para o homem que adquiriu uma deficiência física a medicina está munida de recursos para garantir a sua vida sexual. Como por exemplo: próteses penianas, drogas vasoativas, viagras entre outros. Para as mulheres restam apenas os cremes, os perfumes, essências para o corpo todo... O que você pensa a esse respeito?
— Nós mulheres temos um privilégio sobre os homens: não carecemos de ereção para fazer amor. Nosso órgão genital é côncavo, próprio para o encaixe do membro masculino. Somos agentes passivas, recebedoras. Assim, a nossa maior parte fica por conta da criatividade, da ternura, da astúcia, do que só nós na condição de fêmea sabemos engendrar. Além disso, temos que querer ficar atraentes, sedutoras, agradáveis, entrando aí o uso dos cremes, óleos, que ouriçam o desejo. Se a paralisia não melhora, melhoremos nós. A dormência não vai regredir. A receita é transferir para outras áreas a sensação que sentíamos na genitália, além de procurar nos encantar com o parceiro, uma vez que a relação sexual jamais acontecerá plena, solta, bonita e sublime, sem um sentimento de admiração, pois é uma transferência mútua de energia que nos abastece, tornando-nos plenos, renovando-nos a felicidade do existir.

— O Fabiano Puhlmann, no livro ‘A Revolução Sexual Sobre Rodas’, fala que a pessoa quando adquire uma deficiência acaba desenvolvendo habilidades e sensibilidades antes desconhecidas. E você, em seu livro Pássaro Sem Asas, diz que desenvolveu essa sensibilidade principalmente nas axilas. Poderia falar mais sobre isso, como foi essa descoberta para você?
— É. Alguns leitores ficaram surpresos com a idéia de fazer amor nas axilas e até pesquisaram, comprovando a existência de prazer. Restaram-me as axilas, por que não as experimentar? É uma preparação, antes da cópula propriamente dita, que me deixa feliz, que me faz mulher. Também mereço sentir prazer. O beijo mais vagaroso, mais profundo, mais silencioso, com exploração do palato, acompanhado, é claro, da masculinidade e dos odores tão queridos do parceiro, deixam-me muito fêmea e emocionada, chegando a tremer o que me resta ileso. Continuo dizendo: o homem só fracassa quando desiste de tentar. Costumo afirmar como Aristóteles Onassis: todos os dias eu me levanto para vencer!

— Eu gostaria de saber, se você tem algo mais para acrescentar que acha que seria importante dizer e que não foi dito.
— Eu agradeço muitíssimo pela entrevista. Durante todo o tempo estive devassando a minha privacidade, mas sei que com isso contribuo para dias melhores de nossa categoria. Ouso dar um último conselho à pessoa com deficiência: cultive sua auto-estima! Vá à luta! Você deve ser a arquiteta do próprio destino. Reinvente a vida. Aplique remendos, faça consertos... Aprenda a ver os pontos positivos que existem em você, pois não há nada tão feio que não tenha alguma beleza e nem tão bonito que não tenha alguma feiúra. E disso tudo, o que mais importa é a mente bem direcionada, enfeitada pelo desejo de querer viver bem. Nunca deixe de sorrir, nunca deixe de procurar, porque quem procura acha. Nunca deixe de sonhar. Você é do tamanho do seu sonho.

Genaura Tormin

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