sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Alunos surdos cantam, dançam e interpretam na aula de Arte


Trabalhar música, dança e teatro com alunos surdos ainda é raridade. Conheça três exemplos de professores que fazem isso com qualidade

Camila Monroe (camila.monroe@abril.com.br). Colaborou Beatriz Vichessi, de Goiânia

Boas formas de usar o intérprete nas aulas de teatro
PROTAGONISTAS E COADJUVANTES Na EE Clarisse Fecury, em
Rio Branco, alunos surdos participam normalmente das classes de Teatro do 5º ano.
A garotada já fez peças sem diálogos, espetáculos de
dança, cenas usando libras
e montagens com falas.
PROTAGONISTAS E COADJUVANTESNa EE Clarisse Fecury, em Rio Branco, alunos surdos participam normalmente das classes de Teatro do 5º ano. A garotada já fez peças sem diálogos, espetáculos de dança, cenas usando libras e montagens com falas. "Explorar as possibilidades permite que todos sejam protagonistas. Do contrário, os surdos só interpretam papéis coadjuvantes", diz Simone Araújo da Costa, a professora, que conta com a ajuda de uma intérprete.
Simone Araújo da Costa, da EE Clarisse Fecury, em Rio Branco, conta com uma ajuda especial em suas aulas de Teatro. Como ela tem quatro alunos surdos na turma de 5º ano, a intérprete Jardilene Lopes participa de todas as atividades preparadas pela professora. Tudo o que Simone ensina, Jardilene traduz para libras. Assim, ela ajuda as crianças com deficiência a acompanhar as tarefas, que são sempre diversificadas: peças tradicionais, outras só em linguagem de sinais e algumas com destaque para a dança. Tudo para permitir que os estudantes atuem em papéis diferentes e conheçam estilos diversos de encenar textos teatrais (leia mais na legenda da foto acima).

Vale lembrar que foi só em 2005 que entrou em vigor a lei que garante o direito de ter um intérprete na sala de aula. Mas outra mudança, dizem os especialistas, também foi fundamental para aumentar a participação dos surdos nas escolas regulares. "As famílias estão mais conscientes sobre as possibilidades dos filhos. Essa mudança de postura foi a grande responsável pelo aumento do número de matrículas", diz Maria Sílvia Cárnio, coordenadora de um grupo de teatro com surdos e docente do curso de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (USP). "Ser participante de uma manifestação artística melhora muito a visão que o aluno tem de si próprio. No palco, ele está no centro e se sente ainda mais integrado", completa.

No dia a dia, há outros benefícios importantes. O teatro auxilia também no aprendizado da Língua Portuguesa. "A leitura das peças melhora a escrita e ajuda a entender as regras gramaticais, a ampliar o repertório cultural e a desenvolver a oralização daqueles que conseguem falar", destaca Maria Sílvia. Em Rio Branco, todos têm muito contato com a língua escrita: ao apreciar montagens em vídeo, acompanham as histórias com legendas e, ao ler textos teatrais, aprendem a importância da pontuação para transmitir as ideias - como não existem pontuação e entonação em libras, aprender o português formal não é tão simples para os deficientes auditivos.
Ensinar música para surdos pode parecer muito difícil. Mas basta lembrar que Beethoven (1770-1827) se tornou um gênio do cenário erudito depois que perdeu a audição. Por não ouvirem, os surdos têm os outros sentidos mais aguçados, o que lhes permite, por exemplo, captar com relativa facilidade as oscilações geradas pelas ondas sonoras. É por isso que eles conseguem notar a aproximação de uma pessoa. E é essa vibração a chave para atividades com instrumentos em classe.

A EM Severino Travi, citada no início desta reportagem, faz isso há algum tempo com a garotada de 5º ano. O professor Rogério Heurich é também o maestro da fanfarra da escola, que conta com a participação de vários estudantes deficientes auditivos - quase todos eles tocam instrumentos de percussão.

No início, os gestos usados para reger se confundiam com os sinais de libras. Junto com o intérprete da escola, ele bolou um jeito diferente de reger e acabou com os problemas de comunicação (leia mais na legenda da foto da página seguinte). "A surdez não é uma barreira. Como esses meninos são mais sensíveis às vibrações sonoras, conseguem grande precisão na hora de usar a força", explica Rogério.
NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO A maior dificuldade do professor Rogério Heurich
nas aulas de música era
se comunicar: os sinais usados pelos maestros eram difíceis de entender para os jovens surdos da EM Severino Travi, em Canela, no interior gaúcho. Com o auxílio da intérprete, ele criou gestos especiais, misturados com libras.
NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃOA maior dificuldade do professor Rogério Heurich nas aulas de música era se comunicar: os sinais usados pelos maestros eram difíceis de entender para os jovens surdos da EM Severino Travi, em Canela, no interior gaúcho. Com o auxílio da intérprete, ele criou gestos especiais, misturados com libras. "Agora que o ano está terminando, eles nem precisam mais que eu aponte os erros. Às vezes, ajudam os colegas ouvintes a entrar no ritmo", orgulha-se.

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