Funcionários esqueceram criança dormindo em escola da Zona Norte.
Polícia Civil e Secretaria Municipal de Educação apuram o caso.

dentro de creche (Foto: Kleber Tomaz / G1)
A escolinha já havia sido fechada por volta das 19h de segunda-feira (28), mas funcionários esqueceram de acordar o menino - a criança estuda das 13h às 18h50 na unidade. Ele foi esquecido deitado sobre um colchão. Pedagogos, professores e vigilantes não viram a criança no canto da sala. O último que passou por lá apagou as luzes. A pré-escola, que atende crianças de 3 anos a 6 anos, foi fechada com cadeado.
Gustavo só foi retirado da EMEI com a ajuda de vizinhos que ouviram o choro dele, perto das 21h. Um homem pulou o muro da escolinha, arrombou uma porta e trouxe o menino nas costas de volta para a mãe, a empregada doméstica Jordana Silva da Fonseca, de 29 anos.
Ela havia sentido falta do filho a partir do momento em que a motorista da van escolar passou na frente da sua casa, que fica a dez minutos da creche, e informou que um porteiro da EMEI havia dito que Gustavo já tinha sido levado pelo pai, o pintor Júlio Cesar Pereira, de 25. A informação equivocada fez Jordana ligar para o marido, que negou ter pego o menino.
“Eu então pedi a ajuda a uma amiga para passar na escola e fui com ela para lá. Chegando, ouvi os gritos e choro do meu filho. Fiquei desesperada com aquela situação. Ouvia ele bater na janela, dizendo que queria passar pelo vão, mas era muito pequeno”, relatou Jordana, que teve a ajuda de pessoas que moram perto da escola.
Uma delas, um homem, decidiu invadir a EMEI para resgatar o menino. “Eu havia ligado para a Polícia Militar, mas ela demorou para aparecer. A PM ainda me pediu para esperar a viatura, mas eu não aguentava mais aquele drama. Quando vi, o homem pulou lá dentro”, disse a mãe.
Susto“O moço me salvou. Ele falou para eu me afastar da porta. Depois ele deu um chute e ela estourou. Ele me pegou e falou que ia ficar tudo bem, para eu não chorar mais. Eu pedi para ele não me deixar sozinho. Estava muito escuro lá dentro”, disse Gustavo.
Após o susto, Jordana e Júlio disseram que querem retirar o filho da EMEI e matriculá-lo agora numa escola particular. “Vai ficar pesado desembolsar R$ 400 por mês, mas vamos fazer isso porque não temos mais confiança onde ele está. Hoje [terça] ele não voltou para a escolinha porque está traumatizado, mas deverá ir nos próximos dias até fazermos a transferência no ano que vem”, disse o pai.
“Lá naquele lugar [EMEI] ele não estuda mais. Pensamos que o Gustavo havia sido sequestrado”, disse a mulher, que afirmou ter procurado o Conselho Tutelar do bairro. “Me orientaram a procurar um psicólogo para meu filho. Ele vai precisar fazer tratamento para superar o que passou”.
Jordana também pretende entrar com uma ação para pedir indenização a Prefeitura de São Paulo pelo que ocorreu com seu filho. “Foi culpa dos funcionários desatentos. Você confia a vida e segurança de seu filho a uma escola e veja só o que acontece. Graças a Deus, ele está vivo, mas poderia ter ocorrido o pior com meu filho ou o filho de outra mãe”.

questionado qual é a sua idade (Kleber Tomaz / G1)
Procurada para comentar o assunto, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo confirmou que a criança ficou retida na escola após o seu fechamento e que iria apurar as circunstâncias de como ela ficou presa e eventuais responsabilidades de quem a deixou lá.
Por meio de nota, a pasta informou que a “Diretoria Regional de Educação (DRE) Jaçanã / Tremembé abrirá uma apuração preliminar para investigar a responsabilidade funcional no episódio ocorrido na segunda-feira, 28, nas dependências da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Coronel Walfrido de Carvalho, no Tremembé. A DRE também vai colaborar com a polícia no que for preciso para o total esclarecimento dos fatos.”
PM e Polícia CivilQuestionada se demorou para atender a ocorrência, a Polícia Militar informou que prestou o atendimento à mãe ainda na escola. De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, a escola estava fechada e a mãe da criança ligou por volta das 20h de segunda para o telefone 190 da PM solicitando ajuda para retirar seu filho da unidade escolar. Segundo a corporação, policiais militares foram até o local, na Rua Vicente Querol, ouviram o grito do garoto e o resgataram juntamente com a ajuda de vizinhos da escola.
“A PM não resgatou meu filho com a ajuda de vizinhos. A PM chegou depois. Foi um vizinho quem pulou lá e pegou meu menino nas costas”, discordou Jordana.
Os policiais militares que atenderam a ocorrência levaram o caso para o 73º Distrito Policial, no Jaçanã. O delegado titular Mário Guilherme Carvalho afirmou ao G1 que instaurou um inquérito para apurar o crime de abandono de incapaz. “Vamos ouvir os funcionários da escola, a direção, os vigias, todo mundo, a mãe da criança, para saber o que aconteceu. Alguém será responsabilizado por ter esquecido a criança numa sala escura e trancada”, disse Carvalho.
A investigação também irá saber se existem câmeras de segurança na EMEI. Caso haja, elas podem ter gravado o momento em que o menino foi esquecido.
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